É certo
que há algumas pessoas, como aquelas que se dizem apolíticas e vivem
socialmente fundamentadas apenas em seus apetites particulares, que não possuem
linguagem política através da qual possam indicar umas às outras o que
consideram adequado para o benefício comum. Assim, talvez haja alguém
interessado em saber por que os “seletos” não podem fazer o mesmo.
As
pessoas estão constantemente envolvidas numa competição por visibilidade e, na
maior parte das vezes, elas só visualizam o bem particular. É devido a isso
que surgem entre as pessoas a inveja, o ódio e, finalmente a corrupção, ao
passo os seletos tentam minimizar esses efeitos.
Para uma
pessoa seleta não há diferença entre o bem comum e o bem individual e, dado que
mesmo por natureza tendem para o bem individual, acabam por promover o bem
comum, já que são a mesma coisa. Mas para a grande massa o comum não é o mesmo
que o particular e sua felicidade só pode existir tirando proveito no particular
e eminente.
Aqueles que pertencem as massas
não possuem (ao contrário do seleto) o uso da razão, elas não veem nem julgam
ver qualquer erro na administração de sua existência comum. Ao passo que entre
as politicamente racionais
encontramos julgamentos mais sábios, e mais capacitados para o exercício da
cidadania. Esses esforçam-se por empreender reformas e inovações, acabando
assim por levar o país à um maior desenvolvimento social.
O homem
massa, embora sejam capazes de um certo uso da voz, para dar a conhecer uns às
outros seus desejos e outras afecções, apesar disso carecem de informações
mediante as quais podem-se julgar o que é bom sob a aparência do mal.
As
maiorias politicamente irracionais são incapazes de distinguir entre injúria e
dano ao bem público, e consequentemente basta que estejam satisfeitas para
nunca se ofenderem com o descaso geral. Ao passo que o seleto é tanto mais
implicativo quanto mais satisfeito se sente, pois é neste caso que tende mais
para mostrar sabedoria e para criticar as ações dos que governam o Estado.
O acordo
estatal vigente para as massas é natural e imutável, e para os seletos surge
apenas através de um pacto, isto é, artificialmente. Portanto não é de admirar
que seja necessária alguma coisa mais, além dele, para tornar constante e
duradouro seu acordo: ou seja, um poder comum que os mantenha (governo e
governados) em respeito, e que dirija suas ações no sentido do benefício comum.
A única
maneira de instituir um tal poder comum, capaz de respeitar a coisa pública e
seguir caminhos corretos, garantindo-lhes assim uma segurança suficiente, é
através de pessoas seletas, que devem fiscalizar o Estado e os membros das
assembleias. Agora como podemos ser vigilantes com a coisa estatal se apenas
nos preocupamos com as particulares?
Fundamento das leis naturais Leviatã