23 de mar. de 2016

O imbecil juvenil: Jornal da Tarde, São Paulo, 3 abr. 1998

         Já acreditei em muitas mentiras, mas há uma à qual sempre fui imune: aquela que celebra a juventude como uma época de rebeldia, de independência, de amor à liberdade. Não dei crédito a essa patacoada nem mesmo quando, jovem eu próprio, ela me lisonjeava. Bem ao contrário, desde cedo me impressionaram muito fundo, na conduta de meus companheiros de geração, o espírito de rebanho, o temor do isolamento, a subserviência à voz corrente, a ânsia de sentir-se iguais e aceitos pela maioria cínica e autoritária, a disposição de tudo ceder, de tudo prostituir em troca de uma vaguinha de neófito no grupo dos sujeitos bacanas.
        O jovem, é verdade, rebela-se muitas vezes contra pais e professores, mas é porque sabe que no fundo estão do seu lado e jamais revidarão suas agressões com força total. A luta contra os pais é um teatrinho, um jogo de cartas marcadas no qual um dos contendores luta para vencer e o outro para ajudá-lo a vencer.

3 de mar. de 2016

O bem público e os objetivos de quem não deseja ter olhos

          Procuras saber em que consistem precisamente o maior dos bens, que deveria ser o objetivo de todo sistema educacional, verás que dois objetivos são principais: a liberdade e a igualdade.
         Para o filósofo René Descartes (1596-1650), age com mais liberdade quem melhor compreende as alternativas que precedem a escolha, nesse sentido, quanto mais evidente a veracidade de uma alternativa, maiores as chances de ela ser escolhida pelo agente. No entanto a inexistência de acesso à informação afigura-se óbice à identificação da alternativa com maior grau de veracidade, denotando a possibilidade de existir submissão e servidão.
          Já a igualdade, no âmbito da Política, é o conceito que descreve a ausência de diferenças de direitos e deveres entre os membros de uma sociedade e foi plantada no Iluminismo para idealizar uma realidade em que não houvesse distinção jurídica entre nobreza, burguesia, clero e escravos.
         No entanto o que se vê é uma ausência de liberdade no âmbito da unidade escolar produzida pela falta de conhecimento daquele que deveria conhecer ou pela desfaçatez dos donos da cena, os senhores do constrangimento.
         Tal liberdade, dizem os projetistas do modelo, é uma quimera especulativa, que não pode existir na prática; contudo se o abuso é inevitável, segue-se que ao menos não seja regulamentado. Isso porque a força da ignorância tende sempre a destruir a liberdade que a legislação federal tende a preservar.
         O que torna um Estado verdadeiramente sério é o fato de as leis serem de tal modo observadas que a vontade geral e o bem coletivo, tombem sempre, harmoniosamente, sobre os mesmos pontos. Mas, quando os que deveriam observar as leis enganam-se em seus julgamentos, tomando um princípio diverso daquele que nasce da natureza da lei? Vê-se a grande Carta debilitada insensivelmente, altera-se os fundamentos do ensino em nome de uma visão semelhante a do cego de Jericó. 
 Fundamentos do Contrato Social

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