É
possível cometer erros por meio de inferências erradas feitas a partir de
princípios verdadeiros? O que pode acontecer, geralmente com aqueles que têm
preguiça de pensar, apressam-se em concluir e decidir o que fazer, como
acontece com os que ao mesmo tempo têm em alta conta seu próprio entendimento,
e estão convencidos de que as coisas deste país não exigem tempo de estudo,
bastando a simples experiência e a opinião geral, já que ninguém se considera
desprovido dos ouvidos.
Outro
fato é que ninguém pretende assumir parte da culpa pelos danos causados ao
poder público e poucos desejam chegar ao conhecimento de como esse funciona,
que depende de grandes e prolongados estudos. E não há nenhum desses defeitos
de raciocínio capaz de desculpar um crime cometido contra o magistério público e
muito menos a quem desempenha um cargo público, porque nesses casos pretende-se
pessoas dotadas de razão, e só a falta desta poderia servir de fundamento para
a desculpa.
Das
paixões que mais frequentemente se tornam causas do crime, na coisa pública, é
a vanglória de não gostar de política, isto é, o insensato acha que não tem responsabilidade
com as malesas sociais, mesmo sendo essas frutos de sua ignorância política. Para o desastre
humano os corruptos foram colocados no poder pelos marcianos e a miséria em
nosso Brasil é culpa apenas dos políticos.
O
interessante é perceber que, para a maioria, dependemos da vontade dos que
detêm a autoridade executiva e que o legislativo nunca pode fazer nada. O poder
legislativo é aquele que cria as leis e submete o poder executivo as mesmas.
Então, de onde deriva a presunção de que o legislativo é inocente e quer o bem
da população? Como podemos considerar inocentes aqueles que trocam votos por
cargos no governo e para isso afundam o país?
Acontece
muito que os que se avaliam como honrados dão autorização ou não contribuem
para melhorar o quadro dos eleitos no Estado. Aventuram-se a permitir os crimes
com a esperança de escapar ao castigo, mas mediante a corrupção da coisa
pública todos serão castigados de alguma maneira, seja com o pagamento de mais
tributos, com o caos na saúde, na educação, na segurança etc.
Formam-se
uma grande e falsa opinião sobre os eventos políticos e se atrevem a repreender
as ações e a pôr em questão a autoridade do modelo vigente, transtornando o
engajamento político com seu discurso público, tentando fazer que só participe
da vida política do País os criminosos e, assim seus próprios desígnios ficam
em evidências. Também acontece que muitos têm tendência para todos os crimes
que dependem da astúcia e da capacidade de enganar o próximo, mas não possuem
os meios para expressar tal tendência, é a síndrome de uma falsa presunção da própria honestidade, presente nos não participativos.
Como
posso considerar sábio e honesto aqueles que estão do lado do mal e dos
instigadores da perturbação do bem público? Como posso assistir o triunfo do
mal de braços cruzados? Aqueles que enganam dizendo que a não participação
política é uma virtude geralmente se enganam a si mesmos, as trevas em que
pensam estar escondidos sua conivência não são mais do que sua própria
cegueira. Não são mais sábios do que as crianças que pensam esconder-se quando
tapam seus próprios olhos.
A crise do modelo