Perto das 8 da noite desta quarta-feira, no intervalo de uma reunião no Instituto Fernando Henrique Cardoso, o ex-presidente ouviu a pergunta já no primeiro minuto da conversa por telefone:
─ Posso dizer que o senhor aceita debater publicamente com o presidente Lula?
─ Pode, claro.
─ Alguma pré-condição?
─ Nenhuma. Mas é bom deixar claro que não propus nenhum desafio. Não estou desafiando ninguém. Estou apenas aceitando um convite.
─ Vou dar a notícia amanhã.
─ Pode dar. Debate é sempre saudável. Aceito pelo Brasil.
No mesmo dia em que Fernando Henrique Cardoso topou o convite, o deputado Ricardo Berzoini entoou a cantilena que obriga o presidente a aceitá-lo também. “Vamos, sim, fazer a comparação entre os oito anos de Lula e os oito anos de FHC”, recitou. “O eleitor precisa ser lembrado de como foi um governo e o outro”.
O eleitor merece saber se Lula recebeu uma herança maldita e reconstruiu o país, como repete há pelo menos seis anos, ou se resolveu valer-se de mentiras e fantasias para desqualificar o legado do antecessor que acabou com a inflação, consolidou a democracia constitucional e fixou diretrizes econômicas que, em sua essência, vigoram até hoje. É assunto sério demais para ser tratado por intermediários, muito menos por moleques de recado. É coisa para gente grande. Os eleitores merecem ver em ação os dois protagonistas ─ só eles, e sem figurantes por perto.
O debate se tornou inevitável no momento em que o presidente decidiu que a eleição tem de ser plebiscitária. FHC já topou. Lula não poderá furtar-se ao duelo que provocou.
Augusto Nunes (Veja).