15 de ago. de 2017

Sociologia: 2ª aula do 3º bimestre - 3º ano do Ensino Médio

As Revoluções
         Segundo o Dicionário de Política de Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino, “revolução é a tentativa, acompanhada do uso da violência, de derrubar as autoridades políticas existentes e de as substituir, a fim de efetuar profundas mudanças nas relações políticas, no ordenamento jurídico-constitucional e na esfera socioeconômica”. Nessa definição, uma revolução acontece quando o governo é derrubado violentamente por um grupo que pretende tomar o poder para promover uma transformação social profunda.
         A dificuldade de usar o conceito de revolução está no fato de que diferentes autores discordam sobre o que seria uma “transformação social profunda”. Para os autores marxistas, uma transformação social profunda é uma transformação das relações de produção. Se adotarmos essa definição, diremos que a Revolução Francesa foi de fato uma revolução (pois transformou as relações de produção de feudais para capitalistas), ao passo que a Revolução Americana, por mais que tenha sido importante (libertou os Estados Unidos da dominação colonial inglesa), não foi uma revolução (pois as relações de produção nos Estados Unidos continuaram as mesmas de antes).
         A definição marxista de revolução não está certa ou errada, é uma entre outras definições possíveis e reflete a preocupação dos marxistas com a transformação das relações de produção. Outras definições, mais preocupadas em destacar o aspecto político, enfatizam menos as transformações sociais trazidas pelas “grandes revoluções” (como a francesa ou a russa) e mais os conflitos políticos intensos que levam à derrubada de governos pela força.
         O sociólogo norte-americano Charles Tilly propõe outra definição de revolução. Para ele, revolução é a transferência, pelo uso da força, do controle sobre o Estado, que combina duas coisas:
a) uma situação revolucionária, em que (1) ao menos dois grupos tentam conquistar o Estado, (2) uma parte importante da população apoia esses grupos e (3) o governo não é capaz nem de administrar o conflito entre os grupos nem de reprimir violentamente o grupo que tenta tomar o poder.
b) um desenlace revolucionário, em que (1) os defensores do regime anterior o abandonam, e (2) os revolucionários vitoriosos adquirem controle sobre o Estado, inclusive dos meios de repressão (exército, polícia).
         Como vimos, é possível que aconteça uma situação revolucionária sem resultado revolucionário, ou seja, uma revolução fracassada, que não consegue tomar o poder. A partir de sua definição, Charles Tilly desenvolveu um estudo sobre o tipo de regime político em que as revoluções aconteceriam com mais frequência. Tilly dividiu os regimes políticos segundo dois critérios:
         1. regimes mais ou menos democráticos (dependendo do quanto sejam abertos à participação política dos diferentes grupos sociais) e
         2. regimes mais ou menos capazes (no caso, capacidade de exercer controle sobre o território, impor as leis, cobrar impostos, etc.).       
         Os estudos de Tilly demonstram a relação entre os regimes políticos e as revoluções, retratada no esquema ao lado. Com base nesse esquema, podemos tirar as seguintes conclusões:
         a) As situações revolucionárias dependem muito da fraqueza do regime a ser derrubado. Logo, elas são mais frequentes nos regimes políticos menos democráticos e onde o Estado tem menor “capacidade”. De fato, grande parte das revoluções acontece em países pobres, onde o Estado é ao mesmo tempo fraco e ditatorial, onde é difícil para o Estado tanto administrar os conflitos pela negociação democrática como reprimi-los pela violência.
         b) O sucesso das revoluções é mais provável onde o Estado é não democrático (pois é fácil para os revolucionários reprimirem os partidários do regime anterior) e de capacidade média. Por que não de capacidade alta? Porque, nesse caso, dificilmente os membros do regime anterior (por exemplo, os militares) passarão para o lado dos revolucionários. E por que não de capacidade baixa? Porque, nesse caso, o novo regime é fraco demais para se manter.
         As conclusões de Charles Tilly estão de acordo com alguns fatos importantes sobre as revoluções nos dias de hoje. Em primeiro lugar, é bastante claro que as duas grandes revoluções do século XX (a Revolução Russa e a Revolução Chinesa) ocorreram após grandes guerras (a Primeira e a Segunda Guerra Mundial), que enfraqueceram muito os Estados russo e chinês. Outras revoluções importantes se deram durante lutas de independências nacionais, que também envolveram lutas militares contra potências coloniais. Isso reforça a tese de que revoluções são sinais de fraqueza estatal.
         Por outro lado, também é notável o fato de que as revoluções se tornaram muito raras nos países democráticos. Isso sugere que, nas democracias, onde os diferentes interesses podem se organizar em partidos e movimentos sociais, há mais espaço para a negociação pacífica entre os diversos grupos sociais. Não por acaso, mesmo alguns partidos marxistas importantes em países democráticos (como a Itália) muitas vezes abandonaram o projeto de revolução violenta em favor de uma transformação social pacífica.
Atividade
4º) Uma revolução acontece quando o governo é derrubado violentamente por um grupo que pretende tomar o poder para promover uma transformação social profunda. Por que, para os marxistas, a libertação dos Estados Unidos da dominação colonial inglesa não foi uma revolução?
a) As relações de produção nos Estados Unidos continuaram as mesmas de antes.
b) As relações de produção nos Estados Unidos deixaram de ser socialista.
c) As relações de produção nos Estados Unidos passaram a ser capitalista.
d) A constituição do país não foi alterada.
5º) Por que a probabilidade de acontecimentos de revoluções é maior em países pobres, onde o Estado é ao mesmo tempo fraco e ditatorial?
a) É difícil para nesses Estados tanto administrar os conflitos pela negociação democrática como reprimi-los pela violência.
b) Porque os governantes de Estados fracos não tentam reprimir manifestações.
c) Porque é de interesse da classe dominante nesses Estados o resultado das revoluções.
d)  Porque as revoluções sempre trazem benefícios para o povo.
6º) É notável o fato de que as revoluções se tornaram muito raras nos países democráticos. Por que?
a) Há mais espaço para a negociação pacífica entre os diversos grupos sociais.
b) Não existe espaço para a negociação pacífica entre os diversos grupos sociais.
c) Os grupos sociais não busca negociação em tais sociedades.
d) Porque não podemos mudar nada em uma democracia.  
Sociologia hoje (268- 270): volume único: ensino médio /Igor José de Renó Machado [et al.]. 1. ed. São Paulo: Ática, 2013.

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