2 de ago. de 2017

Sociologia: 1ª aula do 3º bimestre - 3º ano do Ensino Médio.

Capital social e participação cívica
                 Como vimos no item anterior, se é verdade que as minorias organizadas podem dominar as maiorias, não seria melhor se ninguém se organizasse, se cada cidadão cuidasse apenas de seus próprios problemas? Em alguns casos, é claro que não: conquistas como as do movimento negro e do movimento feminista são inegáveis. Mas, então, não seria o caso de valorizar apenas esses grandes movimentos, que defendem grandes causas, e fora isso, cada um cuidar da sua vida?
                Tudo indica que não. Se isso fosse verdade, os países onde há menos movimentos sociais, onde a população participa menos da vida social, onde cada um cuida apenas dos seus próprios problemas, seriam os mais prósperos e bem organizados. Mas o que acontece é exatamente o contrário.
                Segundo as pesquisas do cientista político norte-americano Robert Putnam (1941-), regiões com altos níveis de participação social têm mais prosperidade econômica, mais respeito à lei e menos corrupção. A participação cívica descrita por Putnam não inclui apenas participar de movimentos sociais: inclui também frequentar igrejas, clubes de futebol, grupos de coral, associações de bairro, associações de pais de alunos e qualquer atividade que leva a pessoa a se organizar em conjunto com outros cidadãos.
                Por que ocorrem as situações descritas por Putnam? Não sabemos com certeza. Mas há sinais de que a participação cívica é parte importante do que sociólogos, cientistas políticos e economistas chamam de capital social. Capital social é o conjunto de regras, redes de contatos pessoais (amigos, família, grupos de convivência) e relações de confiança que ajuda os cidadãos a superarem os problemas de ação coletiva. Veja o esquema a seguir.
                De que modo a confiança, por exemplo, favorece a ação em grupo? Lembre-se do problema do carona: se cada um achar que o outro é um carona, nunca nos organizaremos para fazer nada. Mas se tivermos confiança uns nos outros, é bem mais provável que nos organizemos para lutar por nossos direitos, para que nossos filhos tenham boas escolas ou para que nosso bairro receba mais atenção das autoridades. Por outro lado, a confiança é reforçada pela participação em atividades sociais. Vejamos um exemplo.
                Imagine dois comerciantes que nunca se viram na vida e nunca mais se verão depois de fechar um negócio. Imagine que um deles não conhece ninguém que o outro conhece. Se um deles quiser ser desonesto (por exemplo, entregando mercadoria de baixa qualidade), ao outro só restará entrar na justiça contra ele, e processos judiciais levam tempo, custam dinheiro.
                Por outro lado, se os dois comerciantes frequentarem a mesma igreja, a mesma associação de moradores, o mesmo grupo que joga futebol todo sábado ou o mesmo sindicato, o preço da desonestidade passa a ser maior. O desonesto vai ter que enfrentar a reprovação das outras pessoas nesses grupos. Sua fama de desonesto vai fazer com que muitas pessoas desistam de fazer negócio com ele. Ou seja, a participação na vida social diminui o incentivo para ser um carona.
                É fácil perceber que o capital social tem dois lados: é bom que os alunos de uma turma sejam amigos próximos, mas é ruim para alguém que, por algum motivo, seja excluído da turma. Políticos e empresários que frequentam os mesmos clubes, as mesmas festas, as mesmas associações comerciais, podem ter mais facilidade de fechar negócios ilegais entre si. Criminosos bem relacionados nos bairros onde moram podem ter mais chance de fugir da polícia.
                Entretanto, o “bom” capital social (participação em movimentos sociais, em atividades comunitárias, igrejas, etc.) parece mesmo trazer bons frutos ou, ao menos, ajudar a preservá-los. Em suas pesquisas, Robert Putnam comparou o capita social de diferentes estados norte-americanos com a criminalidade e a sonegação de impostos em cada estado.
                Segundo os resultados, os estados norte-americanos em que as pessoas participam mais de atividades cívicas são aqueles que têm menores taxas de criminalidade e de sonegação de impostos. É difícil saber se o capital social é responsável por esses bons resultados ou se apenas contribui para preservá-los: os cientistas políticos ainda não chegaram a um consenso sobre isso. Mas é possível pelo menos supor que a participação cidadã pode ter consequências importantes para o desenvolvimento dos países.
                Se essa suposição for válida, a situação atual é preocupante, pois os estudos de Putnam mostram que tanto nos Estados Unidos como em outros países as pessoas participam cada vez menos de atividades cívicas. Caiu a porcentagem de pessoas que frequentam igrejas, que participam de movimentos sociais, que se reúnem com amigos para praticar esportes, etc. Por outro lado, Putnam ressalta que nos Estados Unidos aumentou muito a proporção de pessoas que escolhem a carreira de advogado (mesmo em comparação com outras carreiras lucrativas). Para Putnam, esse dado sugere que mais pessoas estão preferindo resolver problemas na justiça do que por meio de relações de confiança. 
Atividade (I) 
1ª) Como são os países onde há menos capital social, onde a população participa menos da vida social, onde cada um cuida apenas dos seus próprios problemas? 
a) Mais prósperos e organizados.
b) Menos prósperos e organizados.
c) Capital social não interfere na organização dos países.
d) Só países ricos tem capital social.
2ª) Evidências apontam que regiões com altos níveis de participação social têm mais prosperidade econômica, mais respeito à lei e menos corrupção. Por que?
a) Formam-se relações de confiança que ajudam os cidadãos a superarem os problemas de ação coletiva.
b) Participação social afeta negativamente a ação coletiva.
c) Participação social é amplamente incentivada no Brasil.
d) Países sérios não apresentam níveis altos de participação social. 
3ª) Mais de atividades cívicas levam os Estados a terem menores taxas de criminalidade e de sonegação de impostos. Por que sonegação fiscal e criminalidade são comparadas?
a) Sonegação fiscal é crime.
b) Sonegação fiscal não é crime.
c) Não é a mesma coisa cometer crime e sonegar impostos.
d) Porque a sonegação fiscal traz benefícios para a pobreza.    
Sociologia hoje (254 - 256): volume único: ensino médio /Igor José de Renó Machado… [et al.]. – 1. ed. –São Paulo: Ática, 2013. 

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