2 de ago. de 2017

Sociologia: 1ª aula do 3º bimestre - 2º ano do Ensino Médio.

Sociologia brasileira
                Desde sua consolidação, nos anos 1930, até os dias de hoje, a Sociologia feita no Brasil sofreu influência de teses e teorias desenvolvidas em outros países. A sociedade brasileira foi analisada a partir das relações sociais, políticas, econômicas e ideológicas estabelecidas com outras sociedades, em especial com as sociedades capitalistas do mundo ocidental. Em cinco séculos de história, a sociedade brasileira ganhou feições muito particulares, o que exigiu de seus intérpretes a análise das singularidades que lhe conferem uma cultura própria, distinta das demais sociedades capitalistas.
                No primeiro item deste capítulo apresentaremos uma visão panorâmica das interpretações do Brasil do final do século XIX e começo do século XX. No segundo, vamos analisar o conjunto de intérpretes mais significativos do Brasil dos anos 1930 e sua importância no processo de consolidação da sociologia brasileira. No terceiro item passamos ao tema da questão racial, entendido a partir do legado da escravidão. O item quatro será dedicado ao debate em torno das questões do subdesenvolvimento e da dependência econômica. Por fim, no item cinco, faremos uma exposição das teses que resgatam contemporaneamente a questão da desigualdade social, especialmente a precarização do trabalho e o trabalho informal.
Interpretações do Brasil
                No final do século XIX e início do XX, tomou forma um conjunto de análises sobre as particularidades do Brasil que buscava investigar como a nação se formou, quais seriam as bases dessa formação social, em que medida o passado colonial e escravista teria influenciado essa formação, quais seriam as características centrais da identidade social brasileira. Mais tarde, entre as décadas de 1950 e 1960, essas questões se ampliaram e diversificaram, com temas sobre qual seria o papel econômico e político do Brasil diante da divisão internacional do trabalho e como se dava a relação de dependência com os países de economia mais avançada. Nos dias de hoje, uma questão central é como o Brasil reproduz seu passado de desigualdades sociais, seja por consequência da escravidão, seja em razão do papel subalterno diante de países economicamente mais ricos como Estados Unidos, Alemanha, França, Inglaterra e, mais recentemente, a China.
                Durante os períodos colonial e imperial, o Brasil foi marcado pela produção agrícola escravista e formas de organização social predominantemente rurais e nucleadas na esfera familiar. Após a proclamação da República (1889), o país passou a experimentar o trabalho assalariado e a vida urbana, o que gerou novas contradições e problemas no âmbito da formação social, sobretudo no ambiente universitário que se estruturava.
                A influência das discussões sociológicas, por vezes trazida na bagagem de brasileiros que iam estudar em países europeus ou nos Estados Unidos, refletia a contradição entre o que a sociedade brasileira era de fato e aquilo que poderia ou deveria ser. Muitas dessas interpretações viam o Brasil com os olhos de outras sociedades. O resultado foram interpretações que problematizaram as particularidades do Brasil na medida em que as contrapunham a outras dinâmicas sociais.
                Após a proclamação da República, a questão central passou a ser a definição dos aspectos centrais da formação da sociedade brasileira. Assim, a importância do passado colonial esteve presente na maioria dos livros que discutiram a formação social do país.
                Em 1920, o historiador e sociólogo Oliveira Vianna publicou Populações meridionais do Brasil, livro que destaca as diferenças entre o povo brasileiro e os demais. Motivado por sua tese de que o Brasil teria sido formado por brancos, apesar da presença de índios, mestiços e negros, Oliveira Vianna prevê uma nação embranquecida, em razão da forte imigração europeia e da suposta maior fecundidade dos brancos em relação às outras “raças”.
                Em 1933 Gilberto Freyre publicou Casa-grande & senzala, livro que o sociólogo e crítico Antonio Cândido (1918-) considera ser uma ponte entre o naturalismo que marcou antigas interpretações (como as de Silvio Romero e Euclides da Cunha) e a contribuição sociológica que se desenvolveu a partir dos anos 1940. Freyre desenvolve o argumento de que a miscigenação seria o traço cultural central da sociedade brasileira. Mas ao contrário de interpretações anteriores, não vê a mestiçagem de forma negativa e enfatiza a necessidade de substituir o conceito de “raça”, largamente difundido no Brasil, pelo conceito de cultura.
                Segundo Gilberto Freyre, a família patriarcal foi a base sobre a qual a mestiçagem se desenvolveu no Brasil. Localizada sobretudo no meio rural, particularmente no latifúndio monocultor do Nordeste brasileiro, a família patriarcal constituiu, assim, a forma social ideal para que a “raça” branca, colonizadora, se relacionasse com as demais “raças”.
                Gilberto Freyre defende sua tese central sobre a democracia racial, sempre observando o predomínio dos aspectos culturais em relação aos “raciais”. Nesses termos, a mestiçagem é entendida como uma vantagem e a desmitificação do negro como ser “selvagem” é um tema central. O povo brasileiro é considerado não como simples soma de três “raças”, mas como resultado de um encontro mais complexo, que remete à formação da cultura brasileira.
                Diferentemente de Freyre, o historiador e economista Caio Prado Júnior (1907-1990), nos livros Evolução política do Brasil (1933) e Formação do Brasil contemporâneo (1942) interpreta o passado colonial baseando-se na produção, distribuição e consumo de mercadorias.
                Em Formação do Brasil contemporâneo, a história brasileira é contada do ponto de vista da produção, distribuição e consumo da riqueza. O Brasil é analisado como parte do processo da expansão mercantil europeia. Para Caio Prado, a formação do Brasil se deu de fora para dentro, tendo o país se estruturado como fornecedor de produtos tropicais, a exemplo da cana-de-açúcar. Segundo esse autor, a história do Brasil deve ser entendida num âmbito mais amplo, que tem relação direta com as formas de expansão do comércio europeu na América do Sul.
                As massas de escravos, semiescravos, pobres, explorados e empobrecidos são examinadas e ganham importância na obra de Caio Prado. O autor aponta também para a especificidade que se manifesta desde a colônia, diferenciando a sociedade brasileira da portuguesa. Segundo ele, desde a época colonial os brasileiros teriam adquirido forma própria, diferente da forma indígena e da portuguesa. E consequentemente, nós, brasileiros, teríamos começado a desenvolver uma mentalidade coletiva singular.
                Outro autor importante desse período foi Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), que publicou em 1936, três anos depois de Casa-grande & senzala e com escrita completamente diversa da de Freyre, o livro Raízes do Brasil. De estilo mais conciso, a obra aborda o sentido político da descrença no liberalismo tradicional e busca possíveis soluções. Tem como condicionantes teóricos a história social francesa, a sociologia da cultura alemã, sobretudo a influência de Max Weber, e a teoria sociológica e etnológica.
                O livro de Sérgio Buarque inseriu-se no debate sobre o estudo das origens e formação da sociedade brasileira. O autor dialoga com o historiador Manoel
Bomfim (1868-1932) e com o pensador e político Alberto Torres (1865-1917), entre outros autores, e especialmente com Oliveira Vianna, ao criticar a visão autoritária desse autor sobre a formação social do Brasil. Com Raízes do Brasil, Sérgio Buarque objetiva conhecer o passado com vistas para o futuro, preocupando-se com a transformação social. Assim, o movimento geral da obra consiste em apresentar as características da nação brasileira, os marcos principais de mudança e os caminhos para a transformação futura.
                As questões centrais de sua análise giram em torno da oposição entre o mundo rural e o mundo urbano e entre a esfera privada e a esfera pública. Na concepção de Sérgio Buarque de Holanda, é preciso superar essas raízes, para que nossa sociedade seja modificada. Com esse objetivo em vista, o autor traça um panorama histórico do Brasil que se inicia no período colonial, passa pelo Império e pela República, até os anos 1930.
Atividade (I)
1º) É possível perceber que a sociedade brasileira tem certas particularidades, que analisadas, apontam as base de formação social do Brasil. Quais são essas bases de formação sociedade brasileira?
a) Modelo Neoliberal e colonial.
b) Passado Neoliberal e escravista.
c) Passado colonial e escravista.
c) Passado republicano e democrático.   
                                                      
2º) Uma questão central é como o Brasil reproduz seu passado de desigualdades sociais. Qual fenômeno pode ser citado para explicar tal situação?
a) Falta de escola para o povo.
b) Falta de livro nas escolas.
c) Consequência da escravidão e do papel subalterno do povo.
d) Falta de recursos naturais no Brasil.

3º) Como fez mostrar-se a contradição entre o que a sociedade brasileira era de fato e aquilo que poderia ou deveria ser?
a) Foi apontada por brasileiros que estudaram em países europeus ou nos Estados Unidos.
b) Foi apontado pelos grandes latifundiários brasileiros.
c) Governo, igreja e produtores rurais apontaram a desigualdade como um mal indesejado.
d) Não existe contradição alguma na sociedade brasileira, já que todos classe média.

4º) Por que o passado colonial esteve presente na maioria dos livros que discutiram a formação social do país?
a) Porque o passado colonial não foi importante para justificar o tráfico de negros.
b) O passado colonial não contribuiu para manutenção das igrejas no Brasil.
c) A classe dominante não fazia parte do governo colonial.
c) O passado colonial é parte central dos aspectos de formação da sociedade brasileira.   
Sociologia hoje (168- 171): volume único: ensino médio /Igor José de Renó Machado [et al.]. 1. ed. São Paulo: Ática, 2013.

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