21 de ago. de 2017

Sociologia: 2ª aula do 3º bimestre - 1º ano do Ensino Médio

Gênero e parentesco
                O parentesco, tema fundamental para o pensamento antropológico, sofreu transformações ao longo do tempo e hoje é influenciado pela discussão feminista. O parentesco remete a universos da vida privada. Aquilo que entendemos como família é uma forma de parentesco. A vida privada é uma questão central nas reflexões sobre gênero, pois é nesse universo que nascem muitos aspectos da discriminação da mulher. Assim, o parentesco passou a ser analisado também a partir da crítica feminista.
                Para combater a opressão imposta às mulheres, as feministas questionaram sistematicamente as noções tidas como evidentes nas relações entre homens e mulheres.
                Já na primeira metade do século XX, a antropóloga norte-americana Margaret Mead demonstrava que “homem” e “mulher” são categorias culturais, e que cada cultura define a seu modo essas categorias. O conceito de gênero se refere ao modo como cada sociedade define homem e mulher e de que maneira, numa mesma sociedade, essas definições mudam ao longo do tempo. Gênero, portanto, é uma questão cultural, e não natural. Essa definição de gênero como ideia construída deixou claro que a maioria das sociedades constrói hierarquias que desfavorecem as mulheres, seja qual for a definição social da mulher em cada sociedade.
                Autoras como Gayle Rubin (1949-) e Sherry Ortner (1941-) estudaram esse tema, a partir dos anos 1970. As duas antropólogas norte-americanas explicaram essas diferenças pelo fato de, em geral, as mulheres ficarem mais segregadas ao mundo doméstico enquanto os homens circulam na esfera pública. Existe também uma tendência (muito presente em nossa sociedade) de relacionar a mulher à natureza e o homem à cultura: às mulheres cabem o parto, a maternidade, a amamentação, enquanto aos homens cabem a produção, a transformação do mundo. Essa associação leva a uma discriminação da mulher, já que, na oposição natureza/cultura, o polo cultura é sempre mais valorizado.
                De fato, nas sociedades ocidentais há uma predominância da oposição natureza/ cultura, ligada à ideia de que a natureza deve ser dominada. Essa “conquista da natureza” pela cultura pode ser vista como parte da ideologia ocidental capitalista, que levou a uma opressão das mulheres, associadas à natureza conquistada. Os estudos de gênero passaram a pensar em masculinidades e feminilidades como modos desconstruir diferenças sociais. A associação entre masculinidade e prestígio, por exemplo, é extremamente difundida. As intelectuais feministas se empenharam em dissolver tais oposições com base na tese de que elas não são naturais, mas sim construídas por um sistema que beneficia os homens e lhes garante poder e dominação.
                Ao evidenciar a opressão da mulher, o tema do parentesco ganhou destaque. O parentesco lida com fatos naturais, como parto e reprodução, com o mundo privado (criação dos filhos) e com o mundo público (quando organiza a vida de muitas sociedades). A própria relação de parentesco é um híbrido de natureza e cultura, tratando da produção de relações sociais que também oprimem as mulheres. Assim, muitos antropólogos passaram a pensar o parentesco através da questão do gênero.
                Em 1968, David Schneider publicou American Kinship, importante livro sobre as relações de parentesco nos Estados Unidos. Schneider demonstrou que a noção norte-americana de parentesco era construída a partir de uma oposição entre natureza e cultura, pressupondo a reprodução de uma série de sentimentos relacionados aos parentes consanguíneos (parentes do mesmo sangue, com quem dividimos heranças genéticas). David Schneider concluiu que muito daquilo que os antropólogos acreditavam ser parentesco era apenas uma projeção dos valores do sistema de parentesco do qual eles mesmos faziam parte.
                Essas conclusões aparentemente simples levaram a grandes transformações. Antropólogas feministas perceberam que, se a teoria do parentesco não era necessariamente sobre reprodução biológica, mas sim sobre a produção de relações, não haveria uma verdade natural/biológica no papel atribuído às mulheres. Essa reflexão levou à construção de um campo de pensamento chamado “parentesco construtivista”, ou seja, a ideia de que o parentesco é sempre construído, embora por mecanismos muito distintos e variados conforme a sociedade.
                Estudiosos da homossexualidade passaram a defender que o parentesco homoafetivo é tão legítimo quanto o parentesco “tradicional”. A ideia de uma desconexão do parentesco em relação à biologia deu margem tanto à luta contra a opressão da mulher — e contra a ideia de que cuidar dos filhos e se responsabilizar pelo mundo doméstico é um destino natural — como à luta pelo direito de homossexuais formarem famílias reconhecidas pelo Estado.
                Autoras contemporâneas como Marilyn Strathern (ver Perfil da página anterior) se aproveitaram dessa “desbiologização” do parentesco e avançaram em análises sobre as relações de gênero em vários contextos, desde sociedades na
Nova Guiné até relações de parentesco desafiadas pelas novas tecnologias reprodutivas (como a fertilização in vitro, a possibilidade de clonagem, etc.). Por exemplo, uma mulher solteira pode recorrer a um banco de esperma para gerar um filho?
Se a resposta for afirmativa, dada a garantia de anonimato da doação de esperma, teríamos uma situação em que o filho, legal e juridicamente, não teria pai. Essa e outras situações foram estudadas por Strathern para explicar o impacto das mudanças tecnológicas naquilo que consideramos relações de parentesco.
Atividade
4º) Por que a vida privada é uma questão central nas reflexões sobre gêneros?
a) Porque nesse universo não existe discriminação da mulher.
b) Porque é nesse universo que nascem muitos aspectos da discriminação da mulher.
c) Porque na própria casa a mulher não pode ser discriminada.
d) Porque a vida privada diz respeito a escola.

5º) Já na primeira metade do século XX, foi demonstrava que “homem” e “mulher” são categorias culturais. Gênero, portanto, é uma questão cultural, e não natural. Por que?
a) A maioria das sociedades constrói hierarquias que desfavorecem as mulheres.
b) Não existe hierarquia na maioria das sociedades para desfavorecer grupos sociais.
c) Apenas os indígenas são tratados com preconceito e discriminados nos dias atuais.
d) A maioria das sociedades constrói hierarquias que desfavorecem as mulheres.
 Sociologia hoje (99- 100): volume único: ensino médio /Igor José de Renó Machado [et al.]. 1. ed. São Paulo: Ática, 2013.

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