O conceito de indivíduo só ganhou destaque na modernidade. A noção de indivíduo nunca esteve tão presente como nos dias de hoje.
Tal ideia era quase que ignorada nas sociedades mais
antigas. A importância de um indivíduo estava inserida no grupo a que pertencia,
e não isoladamente como nota-se atualmente. Esse grupo podia ser a família,
Estado, clã, etc.
Com o advento da Reforma Protestante, no século XVI, a
ideia de indivíduo ganhou forma, pois esse movimento religioso definia o ser
humano como um ser criado à imagem e semelhança de Deus. Isso significava que o
ser humano, individualmente, passava a ter “poder”.
No século XVIII, com o desenvolvimento do capitalismo
e dos ideais liberais, a ideia de indivíduo e individualismo firmou-se, pois
colocava a felicidade material humana no centro das atenções. No século
seguinte essa visão estava estabelecida, e a sociedade capitalista,
consolidada.
Nossas escolhas, seus limites e repercussões
Todos ao nascerem, já encontram normas, valores,
costumes e uma forma de produção de vida material que seguem determinados
parâmetros. Muitas vezes, não há como inferir e nem fugir dessas regras
estabelecidas.
A vida em sociedade só é possível porque todas as
pessoas estão subordinadas a falarem a mesma língua, são julgadas pelas mesmas
leis e usam a mesma moeda. Além disso, compartilham de um passado histórico em
comum e apresentam hábitos culturais iguais. Tudo isso dá unidade e sentido
para as pessoas permanecerem unidas, vivendo em grupo.
É fundamental entender que o indivíduo e a sociedade
não são elementos distintos, e sim, elementos interligados. Cada pessoa pode se
comportar de determinada maneira diante da realidade social. Algumas pessoas
podem reagir e lutar, ao passo que outras se acomodam às circunstâncias. Se as
circunstâncias formam os indivíduos, estes também criam as circunstâncias.
O indivíduo está condicionado por decisões e escolhas,
que ocorreram fora de seu alcance, em outros níveis da sociedade. Um exemplo
disso são as eleições. O brasileiro vota em alguém escolhido pelo partido, ou
seja, não temos a total liberdade de escolher em quem votar. Entretanto, as
decisões que a pessoa toma a conduzem
a diferentes direções. Seja qual for, a direção seguida sempre será resultado
das decisões do indivíduo.
De acordo com Norbert Elias, sociólogo alemão, a
sociedade não é um baile à fantasia, em que cada um pode mudar a máscara ou
fantasia a qualquer momento. Desde o nascimento, estamos presos às relações que
foram estabelecidas antes de nós e que existem e se estruturam durante nossa
vida.
Das questões individuais às questões sociais
Questões sociais são os problemas que não fazem parte
de um indivíduo. Problemas que estão ligados à uma estrutura de uma ou várias
sociedades, afetando diversos indivíduos e grupos ou classes sociais. Um
exemplo de questão social é o desemprego, que afeta milhões de pessoas e
diferentes grupos sociais.
O sociólogo estadunidense C.Wright Mills (1915-1962)
apresentou um bom exemplo sobre o tema. Mills escreveu o livro A imaginação sociológica, no qual
considera que, se numa cidade de 100 mil habitantes poucos indivíduos estão sem
trabalho, há um problema pessoal. Entretanto, se em um país com 50 milhões de
trabalhadores, 5 milhões não encontram emprego, a questão passa a ser social e
não pode ser resolvida como um problema individual. Nesse caso, a busca de
soluções passa por uma análise mais profunda da estrutura política e econômica
dessa sociedade.
Situações como a crise econômica de 1929 e a chamada
Crise do Petróleo, em 1973 são exemplos de situações que afetaram inúmeros
indivíduos de diversos países. No entanto, é importante destacar que, tanto em
1929 como em 1973, os eventos
mencionados foram resultados de uma configuração social criada pelas decisões
de algumas pessoas, que provocaram situações que foram muito além de suas
expectativas.
Assim, tomar decisão é algo individual e social ao
mesmo tempo, sendo impossível separar essas esferas.
Crise
de 1929.
Fonte – Tomazi, Nelson
Dacio. Sociologia para o ensino médio capitulo 1 – 2 e.d. – Saraiva, 2010.