29 de ago. de 2017

Política de Interesse

                Em nosso Brasil não vejo racionalidade nas dependências do governar e nem ciência de organizar oposição. Falta igualmente a aptidão, e o engenho, e o bom senso, e a moralidade, nestes dois fatos que constituem o movimento político das nações.
                A ciência de governar é neste país uma habilidade, uma rotina de acaso, diversamente influenciada pela paixão, pela inveja, pela intriga, pela vaidade, pela frivolidade e pelo interesse.
A política é uma arma, em todos os pontos revolta pelas vontades contraditórias; ali dominam as más paixões; ali luta-se pela avidez do ganho ou pelo gozo da vaidade; ali há a postergação dos princípios e o desprezo dos sentimentos; ali há a abdicação de tudo o que o homem tem na alma de nobre, de generoso, de grande, de racional e de justo; em volta daquela arena enxameiam os aventureiros inteligentes, os grandes vaidosos, os especuladores ásperos; há a tristeza e a miséria; dentro há a corrupção, o patrono, o privilégio. A refrega é dura; combate-se, atraiçoa-se, brada-se, foge-se, destrói-se, corrompe-se. Todos os desperdícios, todas as violências, todas as indignidades se entrechocam ali com dor e com raiva.
                À escalada sobem todos os homens inteligentes, nervosos, ambiciosos (...) todos querem penetrar na arena, ambiciosos dos espetáculos cortesãos, ávidos de consideração e de dinheiro, insaciáveis dos gozos da vaidade.
Eça de Queiroz, in 'Distrito de Évora (1867)

Sociologia: 3ª aula do 3º bimestre - 3º ano do Ensino Médio

Estado e cidadania no Brasil
         Durante o período colonial, a organização política no Brasil era parte do Império Português. Prevalecia uma fragmentação do poder político: os grandes proprietários rurais dominavam suas fazendas e aplicavam a lei conforme seus interesses. Em certas regiões, como Minas Gerais na época da mineração, nos séculos XVII e XVIII, o controle da Coroa portuguesa foi mais direto. Mas, como notou o historiador e cientista político José Murilo de Carvalho (1939-), não havia um poder público no Brasil, isto é, um Estado que garantisse a mesma lei para todos. Alguns indivíduos estavam abaixo da lei (como os escravos), outros acima dela (como os grandes proprietários).
         O período colonial deixou diversas heranças negativas para a construção da cidadania após a Independência, entre as quais se destacam:

21 de ago. de 2017

Sociologia: 2ª aula do 3º bimestre - 1º ano do Ensino Médio

Gênero e parentesco
                O parentesco, tema fundamental para o pensamento antropológico, sofreu transformações ao longo do tempo e hoje é influenciado pela discussão feminista. O parentesco remete a universos da vida privada. Aquilo que entendemos como família é uma forma de parentesco. A vida privada é uma questão central nas reflexões sobre gênero, pois é nesse universo que nascem muitos aspectos da discriminação da mulher. Assim, o parentesco passou a ser analisado também a partir da crítica feminista.

15 de ago. de 2017

Sociologia: 3ª aula do 3º bimestre - 2º ano do Ensino Médio

A ESCRAVIDÃO E A QUESTÃO RACIAL
                A herança escravista e a questão racial, temas abordados por vários sociólogos durante o século XX, permanecem extremamente relevantes no século XXI. Autores como o historiador Fernando Novais (1933-), os sociólogos Octavio Ianni e Fernando Henrique Cardoso (1931-) e mais recentemente os historiadores Sidney Chalhoub (1957-), Silvia Hunold Lara (1955-), Célia Maria Marinho de Azevedo (1951-), os sociólogos Antonio Sérgio Guimarães (1952-) e Sérgio Costa (1962-), o antropólogo Kabengele Munanga (1942-), entre tantos outros, procuram entender o peso, a influência e a importância desses temas para a sociedade brasileira.

Sociologia: 2ª aula do 3º bimestre - 3º ano do Ensino Médio

As Revoluções
         Segundo o Dicionário de Política de Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino, “revolução é a tentativa, acompanhada do uso da violência, de derrubar as autoridades políticas existentes e de as substituir, a fim de efetuar profundas mudanças nas relações políticas, no ordenamento jurídico-constitucional e na esfera socioeconômica”. Nessa definição, uma revolução acontece quando o governo é derrubado violentamente por um grupo que pretende tomar o poder para promover uma transformação social profunda.

14 de ago. de 2017

Sociologia: 3ª aula do 3º bimestre - 3º ano do Ensino Médio.

A ORIGEM DA DEMOCRACIA BRASILEIRA
            No item anterior, traçamos um panorama da história da luta pela cidadania em nosso país. Entretanto, para entender o Brasil de hoje, é importante dar especial atenção ao processo de renascimento da democracia em 1985. Compreender bem a origem da democracia brasileira é fundamental para entender seu funcionamento nos dias atuais.
            Nossa democracia moderna nasceu dos escombros do regime militar que se estabeleceu no Brasil em 1964, após a crise da primeira experiência democrática (1945-1964) do país. O regime militar foi uma ditadura: os ocupantes dos principais cargos do Executivo (presidente da República, governadores) não eram eleitos pelo voto popular e o governo violava direitos civis (prendendo, torturando e matando opositores do regime, censurando os meios de comunicação, etc.) e políticos (cassando deputados da oposição, suspendendo o direito de opositores concorrerem em eleições, etc.). Entretanto, embora o governo mudasse as regras do jogo quando temia perder as eleições, elas continuaram acontecendo para alguns cargos importantes, como deputados e senadores, e a partir de um certo momento a oposição passou a conquistar vitórias significativas. Isso não aconteceu nas outras ditaduras latino-americanas do período, como a argentina ou a chilena. E a principal consequência disso foi que os partidos e os políticos que disputaram eleições durante o regime militar continuaram a ter prestígio no período democrático.

10 de ago. de 2017

Sociologia: 2ª aula do 3º bimestre - 2º ano do Ensino Médio

A geração de 1930
                Na década de 1930, Gilberto Freyre, Caio Prado Júnior e Sérgio Buarque de Holanda deram forma científica à sociologia brasileira. Amparados, respectivamente, nas obras de Franz Boas, Karl Marx e Max Weber, formalizaram a Sociologia como ciência no Brasil. A importância desses autores foi decisiva quanto aos rumos da Sociologia a partir desse momento. A seguir, vamos examinar os pontos centrais das obras de Sérgio Buarque e Caio Prado Júnior, já que a perspectiva de Gilberto Freyre foi comentada no capítulo 4.
                Como vimos, Sérgio Buarque adota o referencial weberiano para analisar o Brasil do período colonial. Sua inserção no debate se dá pela denúncia dos fundamentos agrários e patriarcais presentes na sociedade brasileira. Mostra-se também contrário às teorias racistas e, aproximando-se de Gilberto Freyre, entende que a mestiçagem teve papel central na construção da identidade nacional. Não obstante, essa aproximação não pode ser percebida com relação à herança rural. Enquanto Gilberto Freyre faz uma interpretação positiva do passado rural, como algo próprio de nossa cultura e que não deveria ser transformado, Sérgio Buarque enfatiza a necessidade da transformação social, da constituição de um conjunto de regras e normas destinadas a superar um passado de favorecimentos pessoais originários das oligarquias rurais.

9 de ago. de 2017

Sociologia: 1ª aula do 3º bimestre - 1º ano do Ensino Médio

Antropologia interpretativa e simbólica
               Antes de tudo é necessário definir o que é uma produção “contemporânea”. O termo admite leituras bem flexíveis e pode remeter a momentos distintos no tempo. De forma geral, não falaremos de uma produção datada no tempo — como a Antropologia que se fez a partir da década de 1970. Embora essa seja uma referência importante, vamos privilegiar aqui certas questões relevantes para o pensamento antropológico que não perderam sua atualidade e têm sido continuamente debatidas, relidas, refeitas. Ou seja, trataremos de textos que, embora não tão recentes, podem ser considerados contemporâneos por sua pertinência.
               Nos capítulos anteriores, em vários momentos levantamos questões relativas à Antropologia contemporânea. No capítulo 2, ao falar de cultura, entramos no debate contemporâneo da autoridade etnográfica e discutimos algumas tendências antropológicas recentes, como o pós-modernismo e o pós-colonialismo. No capítulo 3, a discussão sobre etnicidade e identidade também faz parte da Antropologia contemporânea.

2 de ago. de 2017

Sociologia: 1ª aula do 3º bimestre - 2º ano do Ensino Médio.

Sociologia brasileira
                Desde sua consolidação, nos anos 1930, até os dias de hoje, a Sociologia feita no Brasil sofreu influência de teses e teorias desenvolvidas em outros países. A sociedade brasileira foi analisada a partir das relações sociais, políticas, econômicas e ideológicas estabelecidas com outras sociedades, em especial com as sociedades capitalistas do mundo ocidental. Em cinco séculos de história, a sociedade brasileira ganhou feições muito particulares, o que exigiu de seus intérpretes a análise das singularidades que lhe conferem uma cultura própria, distinta das demais sociedades capitalistas.
                No primeiro item deste capítulo apresentaremos uma visão panorâmica das interpretações do Brasil do final do século XIX e começo do século XX. No segundo, vamos analisar o conjunto de intérpretes mais significativos do Brasil dos anos 1930 e sua importância no processo de consolidação da sociologia brasileira. No terceiro item passamos ao tema da questão racial, entendido a partir do legado da escravidão. O item quatro será dedicado ao debate em torno das questões do subdesenvolvimento e da dependência econômica. Por fim, no item cinco, faremos uma exposição das teses que resgatam contemporaneamente a questão da desigualdade social, especialmente a precarização do trabalho e o trabalho informal.

Sociologia: 1ª aula do 3º bimestre - 3º ano do Ensino Médio.

Capital social e participação cívica
                 Como vimos no item anterior, se é verdade que as minorias organizadas podem dominar as maiorias, não seria melhor se ninguém se organizasse, se cada cidadão cuidasse apenas de seus próprios problemas? Em alguns casos, é claro que não: conquistas como as do movimento negro e do movimento feminista são inegáveis. Mas, então, não seria o caso de valorizar apenas esses grandes movimentos, que defendem grandes causas, e fora isso, cada um cuidar da sua vida?
                Tudo indica que não. Se isso fosse verdade, os países onde há menos movimentos sociais, onde a população participa menos da vida social, onde cada um cuida apenas dos seus próprios problemas, seriam os mais prósperos e bem organizados. Mas o que acontece é exatamente o contrário.

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