2 de mai. de 2017

Sociologia: 1ª aula do 2º bimestre - 3º ano do Ensino Médio.

A globalização e o Estado

                Alguns autores, como Jessica T. Mathews (1946-) e Zygmunt Bauman (1925-), consideram que a globalização diminui consideravelmente o poder dos diferentes Estados. Há duas maneiras principais pelas quais a globalização pode enfraquecer o Estado moderno.
         Em primeiro lugar, como vimos, porque os problemas globais não podem ser resolvidos por nenhum Estado sozinho. Nem mesmo os Estados Unidos podem, por exemplo, invadir a China e obrigar todos os chineses a parar de usar automóveis para resolver os problemas ambientais do mundo. Menos provável ainda é que algum outro país consiga invadir os Estados Unidos para fazer a mesma coisa.
         Assim, os Estados precisam se organizar entre si para lidar com problemas globais como os que vimos até aqui. Em algum grau, a constituição das organizações internacionais leva a uma perda de soberania dos diferentes Estados.
        Como seria de esperar, os Estados preferem ceder o mínimo possível de suas soberanias às organizações internacionais, até porque não têm garantias de que os demais vão fazer o mesmo. Essa é a principal razão para a fraqueza de diversas organizações internacionais. Porém, mesmo que as organizações internacionais sejam substituídas, por exemplo, por acordos isolados entre os países, esses acordos se tornarão cada vez mais comuns, o que, novamente, levará cada Estado a ceder um pouco (ou muito, dependendo de sua força) em cada negociação.
         Há, entretanto, uma segunda maneira, bem mais visível, pela qual a globalização afeta os Estados: a globalização diminui a liberdade para o Estado regular a economia de seu território. Nesse processo, as empresas multinacionais ganharam muito mais liberdade para escolher em que países querem investir. Muitas dessas empresas se fortaleceram tanto que hoje têm orçamentos maiores do que o de vários países.
         Falamos anteriormente de fabricantes de roupas que produzem em países asiáticos. Eles adotaram essa estratégia porque nesses países os salários são muito baixos (inclusive se comparados aos do Brasil) e os trabalhadores têm bem menos direitos. Assim, se o governo do Brasil, por exemplo, quiser aumentar muito os salários, precisa saber que corre o risco de que algumas empresas se mudem para países onde os salários são mais baixos. Em última análise, os eleitores brasileiros ficam menos livres para eleger um governo que proponha aumentar muito os salários. Eles ainda podem fazê-lo, mas deveriam saber que sua escolha traz o risco de que o investimento estrangeiro no Brasil diminua e, portanto, de que o desemprego cresça.
         O que dissemos sobre salários também se aplica a impostos. Para fornecer aos cidadãos boas escolas públicas, hospitais públicos, uma polícia eficiente, entre outros serviços, o Estado precisa de dinheiro. Esse dinheiro vem dos impostos cobrados dos cidadãos e das empresas que atuam em seu território. Mas, como você deve imaginar, as empresas preferem investir onde pagam menos impostos (isto é, onde podem ficar com uma parcela maior de seu lucro). Se o governo da Argentina, por exemplo, quiser oferecer políticas sociais mais generosas e precisar aumentar muito os impostos, algumas empresas podem preferir investir em outro país. Em última análise, os eleitores argentinos ficam menos livres para escolher um governo que queira oferecer políticas sociais mais generosas. Ainda podem fazê-lo, mas precisam saber que sua escolha terá riscos.
         Assim, surge o risco real de que, com a globalização, diminua a possibilidade de escolha democrática. Como disse o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, o Estado passa a ter dois papéis econômicos: evitar medidas que mexam demais com a economia e ajudar as pessoas que venham a sofrer as piores consequências da globalização (como o desemprego causado pela concorrência de produtos importados).
         O economista turco Dani Rodrik (1957-) criou uma fórmula para explicar o desafio da globalização que, embora simplificada, é útil para nos fazer pensar. A fórmula de Rodrik diz o seguinte:
1. Se quisermos ter perfeita globalização e perfeita democracia, precisaremos sacrificar a soberania nacional. Isto é, os Estados teriam de abdicar de seu poder em benefício de um Estado mundial democrático. Não há nenhuma possibilidade realista de que isso aconteça nos próximos anos, mas, mesmo que houvesse, muita gente ainda preferiria preservar a soberania nacional de seus países.
2. Se quisermos ter perfeita globalização e perfeita soberania nacional, teremos de sacrificar a democracia. O Estado teria de atuar principalmente para manter as empresas multinacionais satisfeitas, garantindo impostos baixos, poucos direitos trabalhistas, poucas regulamentações ambientais, etc. É extremamente improvável que os cidadãos concordem com isso, o que, cedo ou tarde, acabaria levando ao fim da democracia.
3. Por fim, se quisermos ter perfeita democracia e perfeita soberania nacional, precisaremos sacrificar a globalização. Isto é, cada país cuidaria de sua economia, e os eleitores escolheriam o governo que bem entendessem, mas estaríamos dispensando o grande potencial da globalização para promover crescimento econômico, maior intercâmbio entre os povos, entre outros benefícios.
         Rodrik chamou esse problema de “trilema”, isto é, uma escolha de no máximo duas entre três coisas. Em outras palavras, para Rodrik, nunca vai ser possível obter o máximo dos três elementos: sempre precisaremos sacrificar um pouco de um deles se quisermos ter um pouco mais dos outros dois.

Assim falaram... Marx e Engels

                Através da exploração do mercado mundial, a burguesia configurou de maneira cosmopolita a produção e o consumo de todos os países. Para grande pesar dos reacionários, ela subtraiu à indústria o solo nacional em que tinha os pés. As antiquíssimas indústrias nacionais foram aniquiladas e ainda continuam sendo aniquiladas diariamente. São sufocadas por novas indústrias, cuja introdução se torna uma questão vital para todas as nações civilizadas, por indústrias que não mais processam matérias-primas nativas, mas sim matérias-primas próprias das zonas mais afastadas, e cujos produtos são consumidos não apenas no próprio país, mas simultaneamente em todas as partes do mundo. No lugar das velhas necessidades, satisfeitas pelos produtos nacionais, surgem novas necessidades, que requerem para a sua satisfação os produtos dos mais distantes países e climas. No lugar da velha autossuficiência e do velho isolamento locais e nacionais, surge um intercâmbio em todas as direções, uma interdependência múltipla das nações. E o que se dá com a produção material, dá-se também com a produção intelectual. Os produtos intelectuais das nações isoladas tornam-se patrimônio comum. A unilateralidade e estreiteza nacionais tornam-se cada vez mais impossíveis, e das muitas literaturas nacionais e locais vai se formando uma literatura universal.

Atividade

1º) O que seria necessário fazer para ter uma perfeita globalização e um perfeita democracia?
a) Colocar os Estados Unidos como guardião da soberania de um estado mundial.
b) Abrir nossos mercados para o mundo.
c) Aumentar a soberania de cada país no mundo. 
d) Precisaremos sacrificar a soberania nacional.

2º) Com relação ao tripé globalização, democracia e soberania podemos afirmar que no cenário em que cada país cuida de sua economia, e os eleitores escolheriam o governo que bem entendessem é:
a) País democrático com muita globalização.
b) País democrático com pouca globalização.
c) País altamente soberano sem democracia.
d) País Altamente soberano com globalização.

3º) Em um ambiente onde o Estado tem de atuar principalmente para manter as empresas multinacionais satisfeitas, garantindo impostos baixos, poucos direitos trabalhistas, etc. No geral, podemos dizer que:
a) Receita com produtos exportados é baixa.
d) Nível baixo de globalização.
c) Interesse de empresas multinacionais se instalarem no país.
d) Pouco atrativo para a multinacionais.   
Sociologia hoje (233 - 140): volume único: ensino médio /Igor José de Renó Machado… [et al.]. – 1. ed. –São Paulo: Ática, 2013.

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