5 de abr. de 2017

Sociologia: 6ª aula do 2º ano do Ensino médio.

O trabalho em Durkheim e Weber.

                Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx, apesar de terem explicações e métodos de análise diferentes, elegeram o trabalho como objeto científico de seus estudos. Ainda que Durkheim fosse de origem francesa e Marx e Weber de origem alemã, esses três autores clássicos da Sociologia foram influenciados pela Revolução Industrial e pela Revolução Francesa, marcos de um novo modo de vida no ocidente em geral.
         Revolução Industrial é o nome dado a um conjunto de mudanças tecnológicas que tiveram profundo impacto no processo produtivo econômico e social. Iniciado na Inglaterra em meados do século XVIII, esse amplo processo de mudanças se propagou pelo mundo a partir do século XIX. Na primeira fase (1760 a 1860) foram principalmente utilizados recursos como o ferro, o carvão, o tear mecânico e a máquina a vapor. A segunda fase (1860 a 1900) foi caracterizada pelo emprego da energia elétrica, do aço e de produtos químicos.
         Revolução Francesa é o nome dado a um período crucial da história da França, entre 1789 e 1799, que marcou o fim do Antigo Regime e a substituição da monarquia absolutista por uma monarquia constitucional e em seguida pela Primeira República.
         A opção pelo trabalho como objeto de análise demonstra a importância dessa atividade na produção industrial, tanto durante o século XIX e o início do XX como nos dias atuais.
         Durkheim concentra sua atenção na divisão do trabalho. Como vimos no capítulo 6, essa divisão é responsável pelo desenvolvimento de uma sociedade diferenciada internamente. Para Durkheim, quanto mais especializado é o trabalho, mais laços de dependência se formam. Assim, quanto mais desenvolvida for a divisão do trabalho, maior será a teia de relações de dependência entre os indivíduos (um padeiro depende de um agricultor, que depende de um ferreiro, e assim por diante). Isso levará, por consequência, a uma maior coesão social.
         O trabalho, na concepção de Durkheim, é um fato social presente em todos os tipos de sociedade. Há sociedades com menor ou maior divisão do trabalho, mas em todas elas são encontradas funções diferenciadas entre os indivíduos, o que os divide em grupos funcionais distintos com condutas sociais também distintas. Nas sociedades capitalistas, o trabalho é pensado como uma atividade funcional que deve ser exercida por um grupo específico: os trabalhadores.
         Durkheim entende a divisão social entre trabalhadores e empregadores como uma divisão funcional. Divisão entre aqueles que devem cumprir uma atividade de organização da produção e mando (os empregadores) e os que devem desenvolver uma atividade produtiva (os trabalhadores). Essa divisão, como extensão da divisão do trabalho, promove a coesão social e, por isso, deve ser preservada socialmente.
         No entanto, nessa divisão há problemas que Durkheim vê como doenças sociais que devem ser corrigidas para que o todo social se desenvolva adequadamente. Se há excessos por parte de capitalistas ou de trabalhadores, deve-se regulamentar suas atividades a fim de alcançar o equilíbrio e garantir a integração social das partes envolvidas. Dessa forma, o lema de Durkheim prevalece: as partes (os indivíduos) devem submeter-se de modo a garantir a permanência do todo (a sociedade). De um lado, o capitalista não se deve deixar levar pelo egoísmo do lucro exacerbado, de outro, o trabalhador não deve questionar sua funcionalidade dentro da divisão do trabalho.
         Max Weber parte de uma perspectiva diferente. Segundo ele, não há algo geral e comum a todas as sociedades. Cada sociedade obedece a situações históricas exclusivas; e no capitalismo, por condições específicas, o trabalho teria se tornado uma atividade fundamental.
         Em seu livro A ética protestante e o espírito do capitalismo (1905), Weber observa que ocorreu um encontro que deu ao capitalismo sua particularidade. Segundo Weber, não bastou o desenvolvimento do mercado, da moeda, do dinheiro, das relações de troca em geral para que o capitalismo se constituísse como sociedade particular. Essas condições estavam presentes em sociedades passadas, como na antiga Roma e durante a Idade Média, quando já existiam vários elementos que hoje governam as relações monetárias, comerciais e de troca.
         Para Weber, tais características, típicas de uma estrutura mercantil, não são suficientes para explicar a formação do capitalismo. A especificidade do capitalismo, segundo ele, está no encontro entre o “espírito” capitalista, de obter sempre mais lucros, e uma ética religiosa cujo fundamento é uma vida regrada, de autocontrole, que tem na poupança uma característica central.
         Nesse encontro entre a mente capitalista e a ética protestante, o trabalho ocupa lugar central. Para o praticante do protestantismo, o sucesso nos negócios é uma comprovação de ter sido escolhido por Deus. O trabalho árduo e disciplinado e uma vida regrada e sem excessos podem lhe trazer o êxito profissional, sinal de sua fé e salvação espiritual.
         Weber observou que a formação do capitalismo teve como característica fundamental essa ação social orientada por um objetivo racional. Isto é, uma ação ascética com o objetivo de, ao ter êxito em sua vida material, ter a segurança de ter sido escolhido por Deus. O encontro entre uma ética religiosa e um espírito empreendedor possibilitou a formação histórica do capitalismo. Entretanto, a procura da riqueza, segundo Weber, não mais estaria sendo guiada por padrões éticos, mas associada tão somente a “paixões puramente mundanas”. Ao longo do tempo, o encontro formador da sociedade capitalista perdeu seu sentido original e o lucro capitalista passou a dirigir as sociedades contemporâneas

Você já pensou nisso?

O trabalho é uma atividade fundamental para todo e qualquer tipo de sociedade. Com base no trabalho garantimos nossa subsistência, construímos nossas casas, bairros e cidades, nossa vida em sociedade. Somos dependentes do trabalho para produzir nossa própria existência. No entanto, essa atividade tem particularidades históricas. Faça uma lista de algumas características do trabalho das pessoas próximas a você. Existem elementos comuns entre esses tipos de trabalho? Quais são eles?

Atividade

1º) Para Durkheim, quanto mais especializado é o trabalho, mais laços de dependência se formam. Isso significa que:
a) Menor será a teia de relações de dependência entre os indivíduos;
b) Especialização do trabalho aumenta as relações entre os indivíduos;
c) Não teremos uma teia de relações de dependência entre os indivíduos;
d) A teia de relações de dependência entre os indivíduos será desprezível.

2º) Existem problemas na divisão social do trabalho que, segundo Durkheim, são considerados doenças sociais e devem ser corrigidos para que o todo social se desenvolva adequadamente. O ideal seria que tais excessos fossem corrigidos:
a) Democraticamente pela classe capitalista;
b) Com autoritarismo pela classe trabalhadora;
c) Democraticamente com representantes das classes capitalista e trabalhadora;
d) Com autoritarismo pela classe capitalista;

3º) Para Weber, as características típicas de uma estrutura mercantil, como o mercado e as relações de troca em geral, não são suficientes para explicar a formação do capitalismo. Seria necessário mais o que para isso?
a) Encontro entre a mente protestante e a ética socialista
b) Encontro entre a mente trabalhadora e a ética protestante
c) Encontro entre a mente feudal e a ética católica;
d) Encontro entre a mente capitalista e a ética protestante.
Sociologia hoje (127 - 129): volume único: ensino médio /Igor José de Renó Machado [et al.]. 1. ed. São Paulo: Ática, 2013.

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