16 de mai. de 2017

Sociologia: 2ª aula do 2º bimestre - 2º ano do Ensino Médio.

Toyotismo e Neoliberalismo

                As reestruturações produtivas podem ser consideradas, apesar dos intervalos de tempo, elementos estruturais das sociedades capitalistas. É sempre necessário incrementar a produção para aumentar os lucros, e esse incremento se caracteriza como uma grande transformação. Assim, as reestruturações produtivas ou revoluções passivas têm papel fundamental na reprodução das sociedades capitalistas.
         Vimos que no início do século XX o taylor-fordismo caracterizou-se como a forma de organização das indústrias e empresas, sobretudo as de automóveis, eletrodomésticos ou de produtos duráveis e não duráveis. Esse tipo de organização tinha como elementos centrais a produção em massa e o consumo em massa. O trabalho era repetitivo, de alta intensidade, com compensações salariais (salários por peça ou por produtividade) e dentro de uma cadeia produtiva marcada por um rígido controle. Esse tipo de produção vingou na Europa, Estados Unidos e Japão até meados dos anos 1960. Nas últimas décadas do século XX e início do século XXI, foi substituído gradativamente e com variações históricas de país para país, por uma nova forma de organização da produção: o toyotismo.
         Antes de estudar o toyotismo, é importante lembrar por que essa substituição tecnológica foi necessária. Juntamente com o período taylor-fordista (aproximadamente do início do século XX até meados da década de 1960) formou-se um tipo de Estado que dava suporte a esse tipo de organização das indústrias. Com o crescimento vertiginoso da produção, surgiram novas associações trabalhistas e empresariais, novos sindicatos, novos padrões de consumo e de comportamento. Tornou- se necessário um certo tipo de Estado para regular essas novas relações.
         Esse tipo de Estado, conhecido como de Bem-Estar Social, estabeleceu leis trabalhistas, de regulamentação da jornada de trabalho, com regras gerais que de certa forma protegiam a classe trabalhadora. No entanto, essa mesma classe se sujeitava à intensidade da produção taylor-fordista, muito rígida e disciplinada, para atingir altos índices de produtividade. Por volta do final dos anos 1960, as taxas de lucratividade começaram a cair e a classe capitalista impôs a necessidade de restaurar as taxas de lucro perdido.
         Nesse contexto, uma forma de organização da produção introduzida nos anos 1960 por Taiichi Ohno (1912-1990), engenheiro de produção da Toyota no Japão, começou a ser implantada, nos anos seguintes, nas fábricas de automóveis dos Estados Unidos e da Europa Ocidental e, posteriormente, na maior parte do mundo. O modelo implantado no Japão tem seis características básicas:
a) Produção por demanda, com estoques mínimos;
b) Flexibilização da produção, a fim de torná-la variada, ao contrário do fordismo, que produzia em série o mesmo tipo de produto;
c) Automação das máquinas, isto é, máquinas que desempenham várias funções e funcionam com menor grau de intervenção do trabalhador;
d) Sistema just-in-time (tempo certo), no qual a matéria-prima, peça ou acessório chega ao local de produção apenas no momento em que será utilizada, evitando o acúmulo de produtos no estoque;
e) O kanban, um sistema de etiquetas que leva a informação sobre a necessidade de reposição do produto no estoque;
f) Os CCQs (Círculos de Controle de Qualidade), grupos de trabalhadores que supervisionam a qualidade dos produtos, completando um processo de responsabilização por cada etapa de produção, que deve atingir uma qualidade preestabelecida.
         Essencialmente, o que muda do taylor-fordismo para o toyotismo é a automação da produção, isto é, a substituição de antigas máquinas por robôs e máquinas sofisticadas, permitindo que parte do contingente de trabalhadores seja dispensada. A introdução dessas novas tecnologias economiza tempo de trabalho. Ao economizar tempo de trabalho, os capitalistas podem dispensar certo número de trabalhadores, poupando, assim, custos produtivos, o que eleva as taxas de lucratividade e desmobiliza as organizações de defesa dos trabalhadores, como os sindicatos e partidos operários. As consequências disso, para a classe trabalhadora, são o crescimento abrupto do desemprego, a diminuição do valor dos salários, a desmobilização política e a queda de seu poder de compra.
         O toyotismo concebe também um novo tipo de trabalhador. O trabalhador das indústrias taylor-fordistas, o operário que produzia em massa (o operário-massa), foi substituído por um trabalhador polivalente. As novas máquinas ou robôs, com funções muito mais avançadas, exigem novas qualificações para ser operados. Enquanto o operário taylor-fordista operava uma só máquina, em uma rotina de tarefas simplificadas, o operário polivalente opera várias máquinas. E mais: acumula as funções dos operários que foram dispensados, fica sobrecarregado e ainda passa a ser responsável pela qualidade dos produtos, gerenciando sua própria atividade.
        A implantação do toyotismo foi diferenciada em todo o mundo e dependeu das particularidades de cada sociedade. Mas, acima de tudo, essa forma de reestruturar a produção cumpriu seu papel histórico de reproduzir as classes sociais e a desigualdade social entre elas. Seu desenvolvimento pleno serviu-se de políticas macroeconômicas implantadas pelo Estado. Surgiu, assim, em paralelo a essa grande transformação na produção e procurando regulamentá-la, um novo tipo de Estado chamado Neo liberal, que substituiu o Estado de Bem-Estar Social da época taylor-fordista. As características centrais do Estado Neoliberal (neoliberalismo) são:
a) Governo mínimo, com cortes no contingente de servidores públicos;
b) Privatizações de estatais e transferência das questões econômicas para o mercado;
c) Flexibilização das leis trabalhistas, permitindo a intensificação e a maior exploração do trabalho; d) Livre circulação de capitais internacionais, o que pressupõe a abertura dos países periféricos às multinacionais e incentivos à política de baixos impostos.
         O Estado Neoliberal, que se estruturou a partir do final dos anos 1970 na Inglaterra com Margareth Thatcher (1925-) e no início dos anos 1980 nos Estados Unidos com Ronald Reagan (1911-2004), foi fundamental para o desenvolvimento da reestruturação produtiva toyotista no mundo. A promoção de políticas que desregulamentavam as leis de proteção do trabalhador foi extremamente importante para que esse tipo de produção vingasse. Assim, superados a produção taylor-fordista e o Estado de Bem-Estar Social, foi implantada uma nova ordem internacional baseada na relação da produção toyotista (ou flexível) com o Estado Neoliberal.

Você já pensou nisto?

         Em todos os momentos da história das sociedades capitalistas formam-se tipos de Estado e de governo com leis, constituições, projetos e linhas políticas particulares. Todos têm como característica central a manutenção das relações sociais capitalistas, isto é, a manutenção da sociedade como tal. No entanto, cada tipo de Estado e governo tem características que convergem para um certo momento, procurando atender as reivindicações das classes dominantes naquele contexto. Procure pensar de que modo as notícias que você lê em jornais e revistas expressam essa relação entre o governo e os interesses da sociedade. Por exemplo, quando lemos sobre a competição desleal da indústria brasileira com produtos feitos na China e a consequente necessidade de proteger a indústria nacional, podemos perceber a relação entre o Estado e o tipo de organização do capitalismo no Brasil. 

Atividade

4º) No século XX, formou-se um tipo de Estado que estabeleceu leis trabalhistas, de regulamentação da jornada de trabalho, com regras gerais que de certa forma protegiam a classe trabalhadora. Como ficou conhecido esse modelo de Estado?
a) Liberal.
b) Socialista.
c) De Bem-Estar Social.
d) Absoluto.
e) Neoliberal.

5º) O Estado Neoliberal, que se estruturou a partir do final dos anos 1970 na Inglaterra, foi fundamental para o desenvolvimento da reestruturação produtiva toyotista no mundo. Qual característica não faz parte desse Estado.
a) Governo mínimo.
b) Privatizações de estatais.
c) Flexibilização das leis trabalhistas.
d) Livre circulação de capitais internacionais.
e) Planejamento das questões econômicas pelo Estado.

6º) As reestruturações produtivas podem ser consideradas, apesar dos intervalos de tempo, elementos estruturais das sociedades capitalistas. Qual é o objetivo dos empresários em reestrutura as fabricas?
a) Aumentar os lucros.
b) Aumentar a renda dos trabalhadores.
c) Diminuir os lucros.
d) Ajudar os mais pobres.
e) Pagar mais impostos.
Sociologia hoje (140 - 142): volume único: ensino médio /Igor José de Renó Machado [et al.]. 1. ed. São Paulo: Ática, 2013.

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