21 de jun. de 2017

Sociologia: 5ª aula do 2º bimestre - 3º ano do Ensino Médio.

Problemas da ação coletiva
               Lendo o item anterior, pode parecer fácil organizar um movimento social. Por exemplo, é óbvio que as mulheres são tratadas injustamente em diversas situações e têm interesses comuns. Logo, poderíamos concluir, é natural que elas se organizem para lutar por seus direitos. O mesmo pode ser dito sobre os trabalhadores pobres, os negros, os indígenas e tantos outros grupos discriminados.
         Entretanto, a ação coletiva está longe de ser tão simples. Diversos estudos mostram que organizar pessoas em torno de um objetivo comum pode ser bastante difícil, mesmo quando o grupo a ser organizado constitui a maioria da população.
O economista norte-americano Mancur Olson (1932-1998) estudou vários problemas de ação coletiva, relativos a tentativas das pessoas agirem juntas para fazer coisas que são do interesse de todos.
         Você pode pensar que se algo é do interesse de um grupo, o grupo vai se organizar para consegui-lo. Mas nem sempre é assim. Por exemplo, imagine que no seu bairro é do interesse de todos fazer um protesto exigindo a instalação de água encanada pela prefeitura. Temos, então, a seguinte situação:
a) É do seu interesse que o bairro receba água encanada.
b) Você sabe que participar do protesto tem um custo. Você talvez prefira assistir tevê na hora do protesto ou trabalhar nesse horário e ganhar mais dinheiro. Se participar do protesto, não poderá fazer nada disso.
c) Você sabe que todos os demais moradores têm interesse em ter água encanada.
         Assim, há um sério risco de que você pense o seguinte: “o melhor para mim é deixar que os outros façam o protesto: quando instalarem água encanada, eu também vou me beneficiar, e não vou pagar o custo de participar do protesto”.
Isto é, muita gente pode preferir “pegar carona” no esforço político dos outros. O problema é que se todos pensarem assim, o protesto não acontece e ninguém conquista água encanada para o bairro.
         Os problemas da ação coletiva não são insuperáveis: se fossem, não existiria nenhum partido, movimento social, nem mesmo a sociedade, pois todos contamos com o fato de que os outros cidadãos vão concordar em certas coisas, como cumprir as leis ou respeitar os sinais de trânsito. A grande maioria dos cidadãos, aliás, faz essas duas coisas na maior parte do tempo.
         Entretanto, cada grupo social precisa encontrar formas de resolver o problema do carona: os membros de uma igreja, por exemplo, podem parar de convidar para as festas comunitárias pessoas que têm dinheiro para ajudar na manutenção da igreja, mas não o fazem, esperando que outros arquem com esse custo. Cada forma de resolver o problema do carona tem suas vantagens e riscos, é mais ou menos eficiente em cada situação.
         Mancur Olson estudou também outro fenômeno, talvez ainda mais preocupante: se é verdade que pode ser muito difícil organizar a maioria, por outro lado pode ser muito fácil organizar a minoria. Ou seja, existe a possibilidade de um governo controlado por grupos que defendem seus próprios interesses, mesmo quando esses interesses vão contra os da população como um todo.
         É bem mais fácil organizar um grupo quando o número de pessoas é pequeno e quando seus membros só recebem benefícios se participarem da ação coletiva, isto é, se for impossível utilizar a estratégia do carona. No exemplo do quadro da página ao lado, isso ocorreria se fosse possível conseguir água encanada apenas para as pessoas que participassem do protesto.
         Imagine que duas empresas, A e B, têm interesse em conseguir do governo autorização para explorar um garimpo. O problema é que a exploração desse garimpo vai poluir a água consumida por cem mil pessoas. Para as empresas, é fácil se organizar para pressionar o governo (talvez mesmo através de subornos) e obter autorização para o garimpo. Se a empresa A resolver ser esperta e pegar carona no suborno da empresa B, esta pode perfeitamente exigir que o governo dê autorização só para ela. Isto é, nenhuma das duas empresas tem incentivo para ser carona, e a ação coletiva das duas provavelmente vai acontecer.
         No exemplo do garimpo, considere a situação das cem mil pessoas que serão prejudicadas. Não é fácil organizar cem mil pessoas. Se cada uma delas resolver pegar carona na ação das outras 99.999, nada vai ser feito para impedir a poluição da água. Ou seja, neste caso, na luta entre o interesse de duas empresas contra cem mil pessoas, prevaleceu o interesse da minoria. Situações como essa acontecem frequentemente na vida real: minorias bem organizadas, ou que lutam por interesses particulares, muitas vezes vencem maiorias desorganizadas.
         Isso tem consequências importantes para a política nos dias atuais. Muitas políticas inadequadas postas em prática pelos governos se devem à influência de grupos particulares que conseguem exigir medidas que contrariam o interesse da maioria. Quando isso acontece, dizemos que houve “captura do Estado” por esses grupos.
Atividade
14º) Pode parecer fácil organizar um movimento social. É visível que pessoas são tratadas injustamente em diversas situações e têm interesses comuns. Logo, poderíamos concluir, é natural que elas se organizem para lutar por seus direitos. Mas por que isso não é fácil?
a) Muita gente prefere “pegar carona” no esforço político dos outros.
b) No Brasil as pessoas não “pegam carona” no esforço político dos outros.
c) A “carona” no esforço político dos outros não é citada pela sociologia.
d) A culpa é exclusivamente dos políticos que não contribuem com o povo.

15º) Existe a possibilidade de um governo controlado por grupos que defendem seus próprios interesses, mesmo quando esses interesses vão contra os da população como um todo. O que faz tal possibilidade ser colocada em prática?
a) Pode ser muito fácil organizar a maioria.
b) Pode ser muito difícil organizar a minoria.
c) Pode ser muito fácil organizar a minoria.
d) Não podemos organizar a minoria.

16º) É muito fácil perceber a política inadequada de juros no Brasil. Os interesses de meia dúzia de pessoas se contrapõem aos interesses de milhões de cidadãos brasileiros. Por que essas políticas são adotadas, mesmo contrariando o interesse da população?
a) Porque grupos particulares sempre exigir medidas visando o interesse público.     
b) Porque os governos sempre priorizam os interesses do coletivo.
c) Porque os governos não são eleito democraticamente.   
d) Porque grupos particulares conseguem exigir medidas que contrariam o interesse da maioria.  
         Sociologia hoje (252 - 253): volume único: ensino médio /Igor José de Renó Machado [et al.]. 1. ed. São Paulo: Ática, 2013.    

Poderá gostar também de:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...