29 de jun. de 2017

Sociologia: 5ª aula do 2º bimestre - 2º ano do Ensino Médio.

As classes sociais em Marx: contradição e dialética
                Como vimos, Karl Marx (ver Perfil no capítulo 6) parte da relação entre proprietários e não proprietários dos meios de produção para caracterizar a formação das classes sociais e da sociedade capitalista. Para ele, essa divisão social é a primeira forma de divisão do trabalho: a divisão entre aqueles que produzem (os trabalhadores) e aqueles que se apropriam privadamente da produção (os proprietários).
               Segundo Marx, a dinâmica social capitalista está centrada na propriedade privada. Com base nela se constituem as classes sociais e todas as relações de troca. De um lado, estão aqueles que precisam vender sua força de trabalho, pois não têm as condições materiais para produzir sua subsistência. De outro, aqueles que compram a força de trabalho, na medida em que se apropriaram dos meios de produção, convertendo-os em sua propriedade privada. Para estruturar esse raciocínio, Marx pressupõe que a realidade das sociedades divididas em classes é contraditória e que, para analisar essa realidade contraditória, é necessário um método dialético.
                A divisão entre exploradores e explorados nos vários modos de produção necessita, portanto, de uma explicação dialética. Em outras palavras, para entender a relação de exploração e dominação dos escravizados nas sociedades escravistas, a dominação dos servos nas sociedades feudais e a exploração dos trabalhadores assalariados nas sociedades capitalistas é necessário ir além das aparências da realidade observada.
                Para Marx, a dialética é um instrumento analítico que permite desvelar as camadas sociais que não se mostram a olho nu. Por meio da dialética é possível ir além das aparências e descobrir as causas mais profundas de como a vida em sociedade se reproduz historicamente. E, assim, explicar a realidade contraditória entre aqueles que detêm e aqueles que não detêm os meios de produção.
                No item 4 do capítulo 6 (Karl Marx: trabalho e classes sociais), estudamos a diferença entre o trabalho e a força de trabalho. Mesmo sem falar em dialética, vimos que há uma realidade aparente e outra realidade mais profunda, que explica como se forma o lucro capitalista. Vimos também que, aparentemente, o capitalista e o trabalhador se encontram no mercado como indivíduos iguais. As leis e regras de mercado afirmam esse princípio, isto é, quando trocamos coisas no mercado somos todos iguais perante a lei.
                No entanto, a sociedade se organiza com base nos interesses das classes dominantes, ou seja, as leis, regras e normas sociais são construídas para reproduzir as classes dominantes como tal. Assim, apesar de a relação de igualdade jurídica não ser uma mentira, ela é contraditória, pois pressupõe que o indivíduo que compra e o indivíduo que vende a força de trabalho são absolutamente iguais, quando, na prática, eles são economicamente diferentes.
Voltando à dialética: ao mostrar a diferença entre o trabalho e a força de trabalho,
                Marx faz uma análise dialética, buscando entender o que há por trás dessa aparência de igualdade. Ora, como essa relação poderia ser igual se existem diferenças sociais evidentes entre os trabalhadores e os capitalistas? A dialética permite entender o que está oculto pelas relações de produção capitalistas, pois nessas relações só se manifestam os interesses da classe dominante, que impôs esse modo de vida.
                Segundo o pensamento de Marx, as classes sociais vão além de um estrato social determinado apenas pela economia, como define Weber. Não se trata, assim, de agrupamentos de indivíduos que têm rendas ou salários semelhantes. Para Marx, as classes sociais são definidas por suas lutas, mais particularmente pela luta de classes, que expressa a oposição estrutural entre o capital e o trabalho. Em outras palavras, a luta de classes constitui o próprio elemento dinâmico das sociedades.
                A luta entre capitalistas e trabalhadores que se trava todos os dias por melhores salários, melhores condições de trabalho e de vida, refere- se, de um lado, à expansão de políticas sociais que protegem os trabalhadores, na regulamentação da reforma agrária, na construção de vias de acesso a bairros populares, na construção de redes de esgoto e escolas populares. De outro, está relacionada com a aprovação de leis que estimulam os condomínios fechados, com a segregação social, com a política de juros altos, com incentivos fiscais às empresas multinacionais. Para Marx, os interesses opostos são os elementos de transformação histórica e social.
                As classes sociais e suas lutas são referências centrais na obra de Marx. Com base nelas, ele analisa a sociedade capitalista e qualifica as relações de exploração e dominação para além de uma leitura econômica, baseada apenas na determinação dada pela renda. Classe social é um conceito concebido como um conjunto de relações que implicam elementos culturais, simbólicos, econômicos, políticos e ideológicos. Para Marx, as classes sociais não são meros aglomerados de indivíduos, mas, sobretudo, forças sociais e políticas que lutam por seus interesses.
                A realidade social é por vezes muito complexa. Há interesses extremamente variados nos grupos e nas classes sociais de nossa sociedade. No entanto, é possível perceber certa aproximação entre alguns tipos de interesse social. O capitalista dono do banco, apesar de fazer parte da burguesia e ter interesses específicos, não está do lado oposto do capitalista dono da indústria: ambos querem obter lucros e continuar usando a força de trabalho para isso. A mesma coisa pode ser vista entre os trabalhadores. Os operários das indústrias automobilísticas têm interesses diferentes dos bancários, mas ambos querem melhorar suas condições de vida e de trabalho. Tente pensar em outros exemplos de interesses sociais que possam ser identificados com os da classe capitalista, de um lado, e com os da classe trabalhadora, de outro.
Atividade
15º) Aparentemente o capitalista e o trabalhador se encontram na sociedade como indivíduos iguais. As leis e regras de mercado afirmam esse princípio, isto é, quando trocamos coisas no mercado somos todos iguais perante a lei. Por que isso não passa de aparência?
a) Porque não temos acesso à educação.
b) Porque não existem bons livros no Brasil.
c) A sociedade se organiza com base nos interesses das classes menos favorecidas.
d) As atitudes da maioria na população são orientadas para reproduzir as classes dominantes como tal.

16º) É possível perceber que as relações sociais não são iguais, mesmo com a lei estabelecendo a igualdade, porque existem diferenças evidentes entre classes sociais também diferentes. O que pode estar oculto pelas relações de reprodução na sociedade?   
a) Os interesses da classe dominante, que deseja impor seu modo de vida.
b) Os interesses da classe com menor renda, que deseja impor seu modo de vida.
c) Os interesses da grande maioria, que deseja impor seu modo de vida.
d) Os interesses de uma elite com compromisso com a coisa pública.

17º) Por que, segundo o pensamento de Marx, as classes sociais vão além de um estrato social determinado apenas pela economia, como define Weber. Não se trata, assim, de agrupamentos de indivíduos que têm rendas ou salários semelhantes?
a) São agrupamentos de indivíduos que têm rendas ou salários semelhantes.
b) Não podem expressarem oposição estrutural entre o capital e o trabalho.
c) Expressa uma oposição estrutural entre o capital e o trabalho.
d) É visível a inexistência de luta de classes na constituição do elemento dinâmico da sociedade.

18º) As classes sociais e suas lutas são referências centrais na obra de Marx. Com base nelas, ele analisa a sociedade capitalista e qualifica as relações de exploração e dominação para além de uma leitura econômica. O que isso significa?
a) Que só existe dominação no campo econômico.
b) Que o nível de dominação pode ser político, cultural, econômico, ideológico etc.
c) Que a dominação política não é relevante.
d) Que a dominação cultural é desprezível para analisar o fator econômico.    
Sociologia hoje (157 - 158): volume único: ensino médio /Igor José de Renó Machado [et al.]. 1. ed. São Paulo: Ática, 2013.    

Poderá gostar também de:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...