6 de jun. de 2017

Sociologia: 4ª aula do 2º bimestre - 3º ano do Ensino Médio. (Os movimentos sociais)

                É durante a luta pela cidadania que se formam os cidadãos. Os movimentos sociais foram — e são — fundamentais na tarefa de exigir do Estado o reconhecimento dos direitos que compõem a cidadania e para que os próprios cidadãos discutam entre si quais devem ser esses direitos.
                Chamamos de movimento social um grupo de pessoas que atua conjuntamente para transformar algum aspecto da sociedade. Os movimentos sociais são diferentes dos partidos políticos porque não procuram, necessariamente, conquistar o controle do Estado. Em outras épocas, os movimentos sociais atuaram de modo diferente. No dizer do sociólogo norte-americano Charles Tilly, em cada época os movimentos sociais têm um “repertório”, um conjunto de práticas utilizadas para reivindicar. No mundo contemporâneo, esse repertório inclui, entre outros recursos, campanhas na internet, protestos, passeatas e outras formas de atuação política independente da disputa pelo Estado.
                Embora não tenham como foco principal o Estado, os movimentos sociais exercem influência sobre ele porque muitas vezes as campanhas e protestos que organizam afetam as opiniões dos eleitores, o que faz com que os políticos passem a levá-los em conta.
                Há vários tipos de movimento social. Uma maneira de entender a diferença entre eles, proposta pela filósofa norte-americana Nancy Fraser (1947-), é fazer a distinção entre dois tipos de luta empreendida por esses movimentos: a luta por redistribuição e a luta por reconhecimento.
                A luta por redistribuição busca corrigir ou eliminar o que os membros do movimento consideram injustiças econômicas e sociais. O exemplo mais claro é a luta dos sindicatos, que buscam a redistribuição de renda por meio de salários mais altos e outros direitos sociais que diminuam a distância entre a qualidade de vida das diversas classes sociais. No Brasil, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que reivindica a redistribuição de terras, é um exemplo de luta por redistribuição.
                A luta por reconhecimento, por sua vez, busca corrigir ou eliminar injustiças culturais, como a humilhação, o desrespeito e a negação de direitos a pessoas de determinados grupos. Um exemplo de luta por reconhecimento é o movimento LGBT (movimento de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros), que luta contra a homofobia e a favor da livre expressão sexual.
                Os movimentos por reconhecimento têm reivindicações com relação à política do Estado (por exemplo, pelo reconhecimento do casamento civil entre homossexuais), mas parte importante de sua luta é cultural: é a luta para que a sociedade aceite os homossexuais como cidadãos que, como os demais, têm direito a ser diferentes em tudo o que não prejudique os outros cidadãos.
                Além dos casos mais evidentes de movimentos por redistribuição e movimentos por reconhecimento, há os que envolvem tanto a luta pela redistribuição quanto a luta pelo reconhecimento, que Nancy Fraser chamou de movimentos bivalentes.
                O movimento feminista, por exemplo, luta pelo reconhecimento dos direitos das mulheres. Grande parte da luta feminista é por redistribuição: pelo fim da desigualdade salarial entre homens e mulheres, por exemplo, ou para que o governo faça investimentos em políticas públicas para a melhoria da vida das mulheres (como creches públicas de qualidade que permitam às mães trabalharem tranquilamente). Mas a luta feminista é também por reconhecimento: para que as mulheres não sejam julgadas pela beleza física, não sejam estereotipadas como fúteis, vaidosas ou fracas, para que se reconheça o valor do trabalho não remunerado, como o serviço doméstico.
                O caso do movimento negro é semelhante: parte importante da luta é por redistribuição: fim da diferença salarial entre negros e brancos, cotas em universidades públicas, etc. Mas parte essencial da luta do movimento negro é contra ideias racistas e estereótipos (de que negros só são bons em esportes e música, de que mulheres negras são mais sensuais que mulheres brancas, ou que somente brancos podem ter “aparência de líder”). O movimento negro também luta para que a história da resistência negra seja contada nas escolas e para que a herança cultural afro-brasileira seja reconhecida.
                O movimento indígena talvez seja aquele em que estão mais entrelaçadas as lutas por reconhecimento e por redistribuição. Parte importante da luta indígena é pelo direito de ser reconhecido como tal (como membro de uma das diversas culturas indígenas existentes no Brasil), pelo direito de ter sua cultura aceita e não ser forçado a se adaptar aos padrões da sociedade ocidental. Mas, para que tudo isso se torne realidade, é fundamental a luta dos indígenas pelas terras que ocupam há muitos séculos, e longe das quais seus costumes dificilmente sobreviveriam. Por isso, boa parte da luta indígena no
Brasil se dá contra os garimpos, fazendas e projetos governamentais (como usinas hidrelétricas) que invadem terras e reservas ou as prejudicam de alguma forma (por exemplo, poluindo seus rios).
                Por que é tão importante ser reconhecido por nossos semelhantes? Muitas pessoas têm mais facilidade de entender movimentos sociais que reivindicam conquistas materiais (salários mais altos, terra, moradia popular, etc.) do que movimentos por reconhecimento. Para quem é ofendido e desrespeitado no dia a dia por causa da cor da pele, da orientação sexual, do gênero ou da religião, lutar contra esse desrespeito pode ser muito mais importante do que lutar por coisas materiais.
Atividade
10º Chamamos de movimento social um grupo de pessoas que atua conjuntamente para transformar algum aspecto da sociedade. Por que esses grupos são fundamentais para a sociedade?
a) Exigir do Estado o reconhecimento dos direitos que compõem a cidadania.
b) Estão sempre do lado da classe dominante.
c) Lutam sempre contra mudança na constituição de um país.
d) Os movimentos sociais não interferem no governo.

11º) É possível perceber que existem dois tipos de Luta empreendidas pelos movimentos sociais: a luta por redistribuição e a luta por reconhecimento. O que busca a luta por redistribuição? 
a) Manter os privilégios dos mais abastados da sociedade.
b) Corrigir ou eliminar injustiças culturais na sociedade.
c) Corrigir ou eliminar injustiças econômicas e sociais.
d) Corrigir as disparidade no poder.

12º) Os movimentos bivalentes são aqueles que envolvem tanto a luta pela redistribuição quanto a luta pelo reconhecimento. Qual dos movimentos abaixo não é
bivalente.
a) Movimento indígena.
b) Movimento negro.
c) Movimento feminista.
d)  Movimento LGBT.

13º) A luta por redistribuição busca corrigir ou eliminar o que os membros do movimento consideram injustiças econômicas e sociais. O exemplo claro é o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que reivindica a redistribuição de terras. Existe injustiça na distribuição de terra no Brasil?
a) Não, as terras foram distribuídas por critérios divinos.
b) Os grandes latifúndio são fruto de justiça social.
c) A concentração de terras no Brasil mostra a grande desigualdade social.
d) Todos os trabalhadores rurais sem serra são pessoas que não querem nada com a dureza.  
Sociologia hoje (249 - 251): volume único: ensino médio /Igor José de Renó Machado [et al.]. 1. ed. São Paulo: Ática, 2013.    
 

Poderá gostar também de:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...