4 de set. de 2017

Sociologia: 4ª aula do 3º bimestre - 2º ano do Ensino Médio

Subdesenvolvimento e dependência econômica                 
          No Brasil dos anos 1930, o Estado moderno substituiu o Estado oligárquico e a indústria nacional começou a ser desenvolvida. Esse período da história brasileira é central, pois foi em consequência desse momento que a questão do subdesenvolvimento e da dependência econômica do país começou a ser discutida nos anos 1950 e 1960.
         Esse debate, além de ser atual, tem relação direta com o posicionamento do Brasil diante de outras economias do mundo. O lugar do Brasil pode ser pensando com base na divisão internacional do trabalho, isto é, em como foi e ainda é construída a economia nacional, que produtos e ramos da indústria foram desenvolvidos na produção nacional, se são produtos estratégicos ou matérias-primas e como essa produção insere o país na economia mundial.
         Como vimos nos itens anteriores, a tradição econômica do Brasil, mesmo depois da Independência em 1822, foi a de um país produtor de mercadorias com baixo valor agregado, que abastecia as demandas de outros países, sobretudo da Europa e dos Estados Unidos. A partir de meados do século XX, a economia brasileira se desenvolveu como uma economia periférica e complementar a outras que se estruturavam de maneira mais sólida e tinham como base de sua produção bens manufaturados pela indústria, sobretudo a automotiva.
         A questão do subdesenvolvimento aparece, assim, como um problema a ser enfrentado pela Sociologia e também pela sociedade brasileira. Um dos principais teóricos do subdesenvolvimento é o economista Celso Furtado (1920-2004), autor de Formação econômica do Brasil, publicado em 1959. Assim como Caio Prado Júnior, Furtado se preocupa com a economia do passado colonial e chama atenção para a ligação, presente desde a colônia, entre a economia brasileira e a economia mundial.
         Segundo Furtado, o subdesenvolvimento é uma forma de organização social no interior do sistema capitalista e não uma etapa que antecederia a etapa seguinte. Segundo esse autor, os países subdesenvolvidos tiveram um processo de desenvolvimento indireto, em função do desenvolvimento dos países industrializados. Assim, o Brasil se tornou dependente de países desenvolvidos, condição quase impossível de ser superada, a não ser por meio de uma forte intervenção do Estado no setor industrial.
         A análise de Furtado destaca a grande concentração da renda no nível mundial durante o século XX até a década de 1950, que ampliou a separação entre países ricos e pobres, desenvolvidos e subdesenvolvidos. A definição de subdesenvolvimento, portanto, se insere em um quadro de relações de dominação e dependência entre países, relações estas que tendem a se perpetuar.
         Para sair da condição de país subdesenvolvido seria necessário que em meados do século XX o Brasil tivesse estabelecido novas prioridades com o objetivo de atingir uma nova concepção de desenvolvimento. O subdesenvolvimento deveria ser neutralizado a partir de uma ação política que em lugar de reproduzir os padrões de consumo de minorias abastadas passasse a privilegiar a satisfação de necessidades fundamentais da população como um todo, tais como a educação pública. Entretanto, essa ação política sugerida por Celso Furtado não foi implementada pelo Estado brasileiro. Assim, ainda hoje o país se encontra em situação de dependência em relação a países de economia mais forte e as desigualdades sociais permanecem.
         Como vimos, durante a década de 1950 se inicia o processo de implantação de multinacionais no Brasil. São indústrias de bens de consumo e de veículos que buscam firmar o país como produtor de bens típicos das sociedades de consumo. Segundo Fernando Henrique Cardoso, esse processo não foi específico da sociedade brasileira: pode ser observado em vários países latino-americanos e estabeleceu uma reformulação entre as economias mais ricas e mais pobres. Durante as décadas de 1960 e 1970, o processo se aprofundou, colocando os países pobres em uma nova fase de dependência. Entre nós, essa fase foi marcada pelo interesse dos países centrais em desenvolver no Brasil a indústria e o mercado interno. Segundo Cardoso, essa fase da divisão internacional do trabalho reproduz a dependência industrial e financeira, somada naquele momento à dependência tecnológica.
         Forma-se, com isso, toda uma discussão sobre a dependência que acaba por constituir uma nova teoria, a teoria da dependência, que tem como principais expoentes, além do já citado Fernando Henrique Cardoso, o economista e sociólogo
Ruy Mauro Marini (1932-1997) e o economista Theotonio dos Santos (1936-). Essa nova forma de dependência difere da velha dependência que prevaleceu no Brasil do século XIX até aproximadamente os anos 1930. A nova dependência, configurada entre 1950 e 1970, tem como eixo central a transferência de capital estrangeiro para o processo de industrialização. Essa transferência se deu com base no financiamento de novos segmentos industriais e na instalação de filiais de multinacionais no país.
         A política de substituição de importações, que teve como elemento central a industrialização e a urbanização da sociedade brasileira, não tinha nenhum tipo de restrição quanto à entrada de capital estrangeiro. Ao contrário: a chegada desse capital, financiador da industrialização automotiva, era vista pelo Estado brasileiro como a única alternativa para garantir a industrialização. Como desdobramento desses investimentos externos, ocorreu uma dinamização do mercado interno. Entretanto, esse processo fortaleceu a concentração de renda e, exceto quanto aos trabalhadores integrados no processo, aprofundou a desigualdade econômica.
Atividade
11º) A questão do subdesenvolvimento aparece como um problema a ser enfrentado pela Sociologia e também pela sociedade brasileira a mais de 50 anos, mas, ainda hoje o país se encontra em situação de dependência em relação a países de economia mais forte e as desigualdades sociais permanecem. Por que?
a) Porque o subdesenvolvimento é uma forma de organização social no interior do sistema capitalista que precisa ser entendido para ser superado.
b) Porque o subdesenvolvimento é uma forma de organização social no interior do sistema capitalista que favorece as classes de baixa renda na sociedade.
c) Porque o subdesenvolvimento é uma forma de organização social no interior do sistema capitalista que favorece as classes de baixa renda na sociedade.
d) Porque o subdesenvolvimento é uma forma de organização social que só diz respeito ao país em questão.
12º) Na década de 1950 se inicia o processo de implantação de multinacionais no Brasil. São indústrias de bens de consumo e de veículos que buscam firmar o país como produtor de bens típicos das sociedades de consumo. Isso estabeleceu uma reformulação entre as economias mais ricas e mais pobres. O que os países ricos queriam com isso?
a) Desenvolver no Brasil a indústria e o mercado interno para lucrar com a venda de seus produtos.
b) Tornar o Brasil mais justo e igualitário.
c) Beneficiar os brasileiros com trocas comerciais justas.
d) Acabar com a dependência industrial e financeira.  
13º) Cite alguma consequência da política de substituição de importações, que teve como elemento central a industrialização e a urbanização da sociedade brasileira.
a) Aprofundou a desigualdade econômica entre pessoas e regiões do país.
b) Aumentou a dependência de produtos importado no Brasil.
c) Diminui a desigualdade entre pessoas e regiões.
d) Equilíbrio e igualdade financeira para todas as regiões do país. 
  Sociologia hoje (175 - 177): volume único: ensino médio /Igor José de Renó Machado [et al.]. 1. ed. São Paulo: Ática, 2013.

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