[...] Em face do mundo considerado familiar, governado por rotinas capazes de reconfirmar crenças, a sociologia pode surgir como alguém estranho, irritante e intrometido. Por colocar em questão aquilo que é considerado inquestionável, tido como dado, ela tem o potencial de abalar as confortáveis certezas da vida, fazendo perguntas que ninguém que se lembrar de fazer e cuja a simples menção provoca ressentimentos naqueles que detêm interesses estabelecidos [...]
Há quem se sinta humilhado ou ressentido se algo que domina e de que se orgulha é desvalorizado porque foi contestado. Por mais compreensível, porém, que seja o ressentimento assim gerado, a desfamiliarização pode ter benefícios evidentes. Pode abrir novas e insuspeitáveis possibilidades de conviver com mais consciência de se, mais compreensão do que nos cerca em termos de um eu completo, de seu conhecimento social e talvez com mais liberdade e controle.
Para todos aqueles que acham que viver a vida de maneira mais consciente vale a pena, a sociologia é um guia bem-vindo.
Pensar sociologicamente pode nos tornar mais sensíveis e tolerantes em relação a diversidade, daí decorrentes sentidos afiados e olhos abertos para novos horizontes além das experiências imediatas, afim de que possamos explorar condições humanas até então relativamente invisíveis.
[...] A arte de pensar sociologicamente consiste em ampliar o alcance e a efetividade prática da liberdade. Quanto mais disso aprender, mas o indivíduo será flexível diante da opressão e do controle, e, portanto, menos sujeito a manipulação. [...]
Nesse sentido, pensar sociologicamente significa entender de um modo mais completo quem nos cerca, tanto em suas esperanças e desejos quanto em suas inquietações e preocupações.
Pensar sociologicamente, então, tem um potencial para promover a solidariedade entre nós, uma solidariedade fundada em compreensão e respeito mútuos, em resistência conjunta ao sofrimento e em partilhada condenação das crueldades que o causam.
Bauman, Zygmunt. Aprendendo a pensar com a sociologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2010. P 24 – 26.