15 de fev. de 2016

Os movimentos sociais no Brasil

             Há registros de movimentos sociais no Brasil desde o primeiro século da colonização até nossos dias. Esses movimentos demonstram que os que viviam e os que vivem no Brasil nunca foram passivos e sempre procuraram, de uma ou de outra forma, lutar em defesa de suas ideias e interesses.

Lutas no período colonial


                Durante o período colonial (1500-1822), os movimentos sociais mais significativos foram os dos indígenas e os dos africanos escravizados. Além disso, ocorreram vários movimentos políticos, dois deles pela independência do Brasil.
            Os povos indígenas lutaram do século XVI ao século XVIII para não ser escravizados e para manter suas terras e seu modo de vida. Os escravos africanos também não ficaram passivos diante das condições em que viviam. A principal forma de resistência eram as revoltas localizadas e a formação de quilombos, que existiram do século XVII até o fim da escravidão.
            Os quilombos se estruturaram em várias partes do Brasil. O maior e mais significativo foi o dos Palmares, que se localizava no atual estado de Alagoas. Ele começou a se formar por volta de 1630 e foi mantido até 1694, e teve de 20 mil a 30 mil habitantes. Mas outros grandes quilombos se formaram em diferentes épocas e lugares da colônia. Veja abaixo alguns deles, no mapa à direita.
            Além dos movimentos dos indígenas e dos escravos, ocorreram no Brasil colonial dois movimentos pela independência em relação a Portugal: a Inconfidência Mineira (1789-1792) e a Conjuração Baiana (1796-1799). Ambos tinham por base as ideias disseminadas pela Revolução Francesa, mas havia diferenças em seus objetivos. Os inconfidentes mineiros propunham a independência e um governo republicano, mas não o fim da escravidão. Já os conjurados baianos defendiam a independência e o fim da escravidão, um governo republicano, democrático, com liberdades plenas, o livre comércio e a abertura dos portos. Esses movimentos foram reprimidos de modo violento, e seus líderes, presos, degredados ou enforcados.

Revoltas regionais, abolicionismo e republicanismo

           
            No período imperial, entre 1822 e 1889, ocorreram movimentos pelo fim da escravidão e contra a Monarquia, tendo como objetivo a instauração de uma República no Brasil ou a proclamação de repúblicas isoladas. Os mais expressivos estão indicados no mapa abaixo
                Todos esses movimentos foram reprimidos violentamente, com muitas mortes e prisões. A ideia do governo em vigor era torna-los exemplos a não seguir.
            Durante o Império ocorreram ainda movimentos em que se lutou por questões específicas, contra as decisões vindas dos governantes, percebidas como autoritárias. Em 1851, por exemplo, alastrou-se por várias províncias do Nordeste a chamada Revolta Ronco da Abelha, contra o decreto que exigia o registro civil de nascimentos e óbitos. Dizia-se que essa era uma forma de escravizar os recém-nascidos. Outro exemplo é a Revolta do Quebra-Quilos, que começou na Paraíba em 1874 e se espalhou por todo o Nordeste, contra as arbitrariedades dos cobradores de impostos e contra os novos padrões de pesos e medidas de acordo com o sistema decimal. Também aconteceu em várias províncias do Nordeste, em 1875, a Revolta das Mulheres, contra um decreto que alterava a forma de recrutamento para o serviço militar.
            Além das revoltas regionais, dois grandes movimentos sociais, a partir de 1850, alcançaram âmbito nacional: o movimento abolicionista e o republicano. Eles se desenvolveram paralelamente, mas com composições diferentes, e foram fundamentais para a queda do Império e a instauração da República no Brasil.
            O movimento abolicionista agregou políticos, intelectuais, poetas e romancistas brancos, mas também muitos negros e pardos libertos. Cresceu lentamente, pois sofria a oposição dos grandes proprietários de terras e escravos. Por isso, quando finalmente ocorreu a abolição, os ex-escravos foram deixados à própria sorte, o que criou uma questão social que até hoje está presente no país.
            O movimento republicano foi dominado pelos segmentos mais ricos da sociedade. A organização buscava uma nova forma de acomodar os grupos que desejavam o poder sem a presença do imperador e da Monarquia. Houve a participação de liberais que defendiam uma república democrática, mas eles foram afastados e os conservadores se apossaram do poder.
            Tanto o movimento abolicionista quanto o republicano utilizaram a imprensa e a discussão em vários níveis sociais; ambos conseguiram seus objetivos ao mesmo tempo, de tal modo que o fim da escravidão no Brasil, em 1888, abriu as portas para a implantação da República, em 1889.

                De Canudos à Coluna Prestes


            Os movimentos sociais que ocorreram entre o final do século XIX e os primeiros anos do século XX mostravam um caráter político e social marcante, mesmo com vigilância rígida sobre a população do campo e da cidade. Dois movimentos dessa época podem ser lembrados pela denúncia da miséria, da opressão e das injustiças da República dos Coronéis: a Guerra de Canudos e a Guerra do Contestado.
            A Guerra de Canudos aconteceu entre 1893 e 1897, na Bahia. O movimento foi liderado por Antônio Conselheiro. Com ele, sertanejos baianos estabeleceram-se em Canudos, um lugarejo no nordeste da Bahia, e constituíram uma comunidade de cerca de 30 mil habitantes. Viviam num sistema comunitário: não havia propriedade privada e todos os frutos do trabalho eram repartidos.
            Temendo o poder de Antônio Conselheiro e a possibilidade de que a experiência se estendesse a outros lugares, os donos das terras, os coronéis, exigiram que os poderes estadual e federal acabassem com aquela comunidade. A história desse movimento ficou eternizada no livro Os sertões (1902), de Euclides da Cunha.
            O outro movimento que marcou a época, a Guerra do Contestado, ocorreu entre 1912 e 1916, no Paraná e em Santa Catarina. Seus integrantes eram sertanejos revoltados com as condições de opressão impostas pelos coronéis locais, posseiros expulsos de suas terras pela empresa britânica Brasil Railway Company, que tinha obtido a concessão para montar serrarias na região e construir a ferrovia ligando São Paulo ao Rio Grande do Sul, e ex-empregados dessa companhia, demitidos sumariamente quando a obra foi concluída. Liderados por João Maria e depois por José Maria, perto de 20 mil pessoas envolveram-se na rebelião.
            Os dois movimentos, após anos de resistência e muitas batalhas, foram massacrados pela força do Exército nacional, em uma matança indiscriminada.
            Outros movimentos sociais, de caráter urbano, marcaram as primeiras décadas do século XX. Foi o caso das greves operárias, que emergiram de modo significativo nesse período e, mesmo proibidas por lei, tomaram conta das fábricas no Sudeste do país. Eram comandadas principalmente por imigrantes italianos, no Rio de Janeiro e em São Paulo, com forte influência anarquista. Esses movimentos grevistas denunciavam as péssimas condições de vida dos trabalhadores, as longas jornadas de trabalho, os baixos salários, a inexistência de leis trabalhistas e a exploração do trabalho feminino e infantil.
            A repressão aos operários, sempre dura, apoiava-se em uma legislação que permitia expulsar trabalhadores imigrantes e condená-los por “delitos ideológicos”, de acordo com critérios que eram sempre estabelecidos pelos governantes.
            No meio militar, inicialmente centralizado no Rio de Janeiro e em São Paulo, desenvolveu-se um movimento que teve grande alcance em termos políticos, por colocar em discussão as bases de sustentação do regime republicano: o Tenentismo. Esse movimento político-militar estendeu-se por vários anos, e teve como objetivo conquistar o poder para promover as reformas necessárias à modernização da sociedade. Os tenentes rebeldes eram contra as oligarquias políticas regionais e a estrutura de poder que as sustentava. Viam por trás delas a corrupção na administração pública e as fraudes eleitorais. Além disso, defendiam um sistema econômico que não se sustentasse no setor agroexportador e uma educação pública abrangente. Consideravam-se responsáveis pela salvação nacional, pois ainda julgavam o povo incapaz de promover a mudança para outro regime político. Nesse sentido, tinham uma tendência autoritária.
            O primeiro levante dos tenentistas ocorreu em 5 de julho de 1922, no Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro. Nessa ação, para tentar impedir a posse do presidente eleito Arthur Bernardes, os oficiais rebelados ameaçaram bombardear o Rio de Janeiro. A reação foi rápida e o movimento foi controlado pelo Exército.
            O segundo levante ocorreu em 1924, em São Paulo, e reuniu cerca de mil homens. Eles ocuparam os pontos estratégicos da capital paulista, fazendo com que os governantes fugissem da cidade. A reação também foi rápida e, com a ajuda de tropas do Rio de Janeiro, a situação foi controlada.
            O líder da revolta, general Isidoro Dias Lopes, dirigiu-se com uma tropa numerosa para o Sul do país, com a determinação de continuar a luta contra o governo. Assim nasceu a Coluna Paulista, que, ao se encontrar com outros militantes revoltosos, liderados por Luís Carlos Prestes, formou a Coluna Prestes. Esta percorreu mais de 20 mil quilômetros do território brasileiro, do Sul ao Nordeste, atravessando doze estados, com o objetivo de levantar a população contra o poder das oligarquias regionais. Os integrantes da Coluna Prestes defendiam muitos princípios que seriam a base para as mudanças que ocorreram no governo de Getúlio Vargas. 
Fonte – Tomazi, Nelson Dacio. Sociologia para o ensino médio capitulo 17 – 2 e.d. – Saraiva, 2010.

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