16 de fev. de 2016

Uma mancha em nossa cara

           Estamos formando, felizmente, em nosso país, uma consciência refinada, é certo - que queremos introduzindo o elemento da dignidade humana em nossas vidas, e para a qual a corrupção na coisa pública, apesar de hereditária, é uma verdadeira mancha de Caim que o Brasil traz na fronte. Essa consciência, que está temperando a nossa alma, e há de pôr fim humanizá-la, será resultado do sofrimento de pessoas mais educadas e esclarecidas.
          Não tenho, portanto, medo de que o presente volume não encontre o acolhimento que eu espero por parte de um número bastante considerável de compatriotas meus, a saber: os que sentem a dor do descaso na própria pele e, ainda mais, como parte de uma dor maior - a do Brasil, ultrajado e humilhado; os que têm a altivez de pensar - e a coragem de aceitar as consequências desse pensamento - que a pátria, como a mãe, quando não existe para os filhos mais infelizes, não existe para os mais dignos; aqueles para quem a miséria e a corrupção, degradação sistemática da natureza humana por interesses mercenários e egoístas, se não é infamante para o homem educado e feliz que a inflige, não pode sê-lo para o ente desfigurado e oprimido que a sofre; por fim, os que conhecem as influências sobre o nosso país, e, no presente, o seu custo ruinoso, e preveem os feitos de sua continuação indefinida.
            Os países são respeitados, não tanto pela grandeza do seu território, mas pela honestidade dos seus filhos; não tanto pelas leis escritas, como pela convicção de honestidade e justiça do seu governo; não tanto pelas instituições deste ou daquele molde, como pela prova real de que essas instituições favorecem, ou, quando menos, não contrariam a liberdade e desenvolvimento da nação.

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