26 de ago. de 2020

Sociologia: Atividade II do 2º ano do Ensino Médio.

ANTROPOLOGIA COMO INVENÇÃO
              Outra discussão importante para a Antropologia contemporânea é a renovação da ideia de cultura, iniciada em 1975 pelo antropólogo norte-americano Roy Wagner (1938-), com a publicação de The Invention of Culture (A invenção da cultura, Cosac Naify, 2012), livro que passou praticamente despercebido. Hoje essa obra é considerada fundamental na construção de uma nova antropologia, que tem recebido diferentes denominações: antropologia pós-social, antropologia reversa, antropologia simétrica, antropologia ontológica, antropologia reflexiva.
         Roy Wagner lançou uma série de questionamentos sobre grandes “verdades” tidas como evidentes no pensamento antropológico. Para esse autor, um dos problemas da Antropologia era a defasagem entre o conhecimento produzido pelo antropólogo e o saber do qual deriva esse conhecimento, ou seja, a cultura nativa. Tudo se passa como se o antropólogo fosse a campo, observasse diferentes aspectos de uma sociedade, voltasse e contasse suas observações para os colegas. Mas isso é uma ilusão.
         Na realidade, o antropólogo usa categorias de sua própria cultura para pensar as coisas que acontecem “do outro lado”. Quando faz isso, acaba por subordinar as outras culturas ao seu próprio conhecimento. Ou seja, o antropólogo tem sempre uma vantagem sobre o nativo, pois pensa a experiência deste a partir das categorias de sua própria sociedade. Assim, os conceitos do antropólogo acabam por obscurecer a relação entre antropólogo e nativo. Seria preciso, então, pensar diferente. Esse “pensar diferente” envolve imaginar que o conhecimento do nativo tem o mesmo valor que o conhecimento do antropólogo.
         Para Wagner, o que nativos e antropólogos fazem o tempo todo é inventar cultura, no sentido de criar, transformar, produzir diferenças. Ou seja, a cultura é constantemente inventada por seus “usuários”, o que gera novas configurações que, por sua vez, são “estabilizadas” para depois serem novamente desestabilizadas por novas invenções. Se o nativo inventa cultura, o antropólogo também inventa. O que o antropólogo faz é entrar em contato com a vida do nativo: o trabalho de campo. Esse processo resulta no antropólogo descrevendo para seus pares como é a vida do nativo, e isso é, em si, uma invenção de cultura. O antropólogo não descreve objetivamente algo (uma cultura) que está lá: ele entra em contato com uma diferença, e esse contato produz uma terceira diferença: a experiência do trabalho de campo. Essa terceira diferença é algo novo, que permite ao antropólogo imaginar como é a vida do nativo. Essa imaginação Wagner chama de cultura, fruto de um encontro e de uma tentativa de se aproximar do conhecimento nativo, e não uma tentativa de descrevê-lo.
         A ideia da cultura como invenção representou uma grande transformação da Antropologia. Ao colocar no mesmo patamar as invenções do antropólogo e do nativo, recusando a superioridade do conhecimento antropológico, Wagner abriu espaço para o que chamou de “antropologia reversa”. Ou seja, imaginar como o nativo pensa a nossa sociedade, como se o nativo fosse também antropólogo — em certo sentido, todos nós somos um pouco antropólogos. E mais: essa reversão significa pensar nossa própria sociedade do ponto de vista do nativo, o que provoca um estranhamento e uma transformação. Ao pensar sobre nós mesmos com os conceitos do nativo, estamos também inventando nossa própria cultura, que é transformada por esse pensamento do nativo (o “outro”).
         Para Roy Wagner, a aventura da Antropologia é uma via de mão dupla: descrever a vida do nativo acaba por transformar nossa própria noção de vida. Isso resulta da atitude de dar aos conceitos do nativo a mesma importância dada aos conceitos antropológicos. O pensamento de Wagner propõe, portanto, a ruptura de uma divisão que sempre foi fundamental para a Antropologia: a divisão entre nativos e antropólogos. Do ponto de vista de Wagner, somos todos antropólogos.
         O trabalho de Roy Wagner, entretanto, levou muito tempo para produzir impacto, ao contrário das teorias de Clifford Geertz e Marshall Sahlins, publicadas na mesma época. Foi necessário que ocorressem outras rupturas para que o valor da obra de Wagner fosse reconhecido. E, mesmo assim, suas ideias afetam apenas em parte a Antropologia contemporânea. Vários estudiosos continuam fazendo seu trabalho sem se preocupar com os chamados “grandes divisores”, isto é, grandes eixos do pensamento ocidental que podem ser resumidos em pares de oposições, como a separação entre sujeito e objeto (entre antropólogo e nativo, por exemplo), a separação entre natureza e cultura e a separação entre sociedade e indivíduo. Vamos conhecer a seguir um pouco da crítica aos grandes divisores.
Atividade
7º) É visível que os conceitos do antropólogo acabam por obscurecer a relação entre antropólogo e nativo. A diferença entre o conhecimento do nativo e do antropólogo se dá por que? 
a) Fazem parte da mesma cultura.
b) São de cultura com o mesmo valor.
c) Conhecimento cultural com valores diferentes.
d) Não existem diferenças entre as culturas. 

8º) Para os sociólogos as pessoas inventam cultura o tempo todo, no sentido de criar, transformar, produzir diferenças. Ou seja, a cultura é constantemente inventada por seus “usuários”, o que gera novas configurações. Neste sentido o que pode desestabilizar uma cultura?
a) A proibição de uma nova maneira de pensar.
b) A criação de novos códigos para a cultura.
c) Uma religião repressiva.
d) A falta de pessoas pensante para o processo de criação cultural.  
Sociologia hoje (99- 100): volume único: ensino médio /Igor José de Renó Machado [et al.]. 1. ed. São Paulo: Ática, 2013.

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