Sou honesto. Essa palavra dói, eu sei. É como se a minha honestidade agredisse os que acreditam na corrupção como estilo de vida. Ou, pior, despertasse a piedade dos que enxergam nisso um desamparo profundo e inconsolável.
Admito que é uma opção solitária, desagregadora, fria. Não é fácil viver sem corrupção no Brasil. Mais difícil deve ser trabalhar no Estado desse jeito. Sem colegas no time dos corruptos não há esperança.
Ao que tudo indica, ao nascer, somos todos honestos, por pura ignorância. Mas, ainda na infância, nenhum de nós escapa de olhar para as facilidades e nelas enxergar algumas facilidades infinitas.
É muito confortável pensar que não temos nada a ver com a bagunça no Estado, que jamais seremos atingidos pelos atos corruptos de agentes públicos, que Deus zela por nós. Quando criança, admirava as autoridades. Não sei exatamente em que momento meus sentidos não suportaram a lógica política do Brasil.
Foram muitas as razões que me fizeram duvidar da inocência do sistema educacional brasileiro com relação à ignorância do povo e a ingerência da coisa pública. Foi emocionante saber que furei tal barreira, que minha insignificância estar sendo vencida.
Cada homem, cada mulher, passou a ser importante, consistente, irreversível. Somos todos iguais perante nós mesmos, concluí.
A honestidade só é digna se praticada pela maioria. Nada mais sinistro do que uma pessoa tentando impedir o tráfico de drogas nos morros cariocas. Ainda vão descobrir que a corrupção é perpetrada pela ignorância do povo e pela péssima qualidade da educação que alguns desejam esconder (entre eles os profissionais da educação).
Pelo que pude perceber, estamos aqui para aprender e ensinar, errar e acertar. Não tenho forças para me sentir um líder, mas tento ser forte ao perceber a falta de coragem daquele que são pagos com o dinheiro do contribuinte para informar o povo e faz, justamente, o contrário.
