16 de out. de 2017

A Revolução Informacional (1º aula - 4º bimestre 2º ano)

                O desenvolvimento científico e tecnológico inspirou vários autores desde a Revolução Industrial. Novos sujeitos sociais, modos de produção, novas práticas políticas, novos tipos de sociedade, de organização da produção, de formas de ação política coletiva foram estudados com base no avanço, no progresso ou no desenvolvimento científico e tecnológico. Essas análises foram particularmente influenciadas por uma leitura de Marx sobre a relação entre forças produtivas e relações de produção. Para esse autor, as forças produtivas, isto é, aquilo que se apresenta como elemento da transformação social, são limitadas pelas relações de produção capitalistas. Dessa forma, as relações sociais capitalistas impedem que as forças produtivas (por exemplo, a ciência e a tecnologia) avancem, já que esse avanço não condiz com os interesses sociais do capitalismo.
                Assim, para Marx, a transformação da sociedade se identifica com as forças produtivas enquanto a conservação social se identifica com as relações de produção. Existem no capitalismo forças produtivas capazes de produzir o necessário para toda a população do planeta. No entanto, esse desenvolvimento não interessa às relações de produção, que preferem manter o desenvolvimento limitado aos interesses do capital, restringindo o acesso e a socialização dos produtos.
                Com a reestruturação produtiva dos anos 1960 e 1970, esse tema volta ao centro da discussão sociológica. As novas tecnologias da informação, distintas das tecnologias anteriores, pareciam dar outro sentido às sociedades contemporâneas, na medida em que abriam novas formas de participação social e política aos indivíduos. Falou-se de uma Revolução Informacional, que teria transformado a base produtiva do capitalismo.
                Diferente da Revolução Industrial, que se caracterizou como uma revolução da indústria e teve seu foco no trabalho realizado nas máquinas, a Revolução Informacional teria como base de produção não mais a matéria física, mas a informação. Enquanto a Revolução Industrial se caracteriza pela transformação de um produto com base no trabalho manual, na Revolução Informacional o trabalho intelectual predomina e não se limita à indústria, mas está presente em todos os setores da economia. Em seu livro A Revolução Informacional (São Paulo: Cortez, 1999), o sociólogo francês Jean Lojkine (1939-) entende que esse tipo de produção não é fruto apenas de uma transformação tecnológica. Para esse autor, não se trata da simples utilização da informática em atividades de formação, comunicação e gestão, mas sim de uma mudança na utilização humana da informação.
                A questão central para entender o trabalho informacional na produção ou nos serviços tem relação com as formas de liberação do trabalhador. Para Lojkine, muitas foram as tentativas de controlar esse tipo de atividade de forma taylorista, isto é, retirando os saberes dos trabalhadores e os transferindo para a gerência. Mas essas tentativas não tiveram êxito, já que as atividades criadas pela Revolução Informacional se apoiam na produção e troca de informações por meio das tecnologias da informação.
                Segundo alguns autores, ocorreu uma diferença significativa na utilização das tecnologias da informação, pois, diferentemente das tecnologias tradicionais, as NTICs (novas tecnologias da informação e comunicação) não se caracterizam como um processo de substituição de trabalhadores por máquinas. Segundo Lojkine, essas tecnologias são diferentes na medida em que demandam uma interatividade do trabalhador com a máquina, tendo a invenção humana um papel central nesse processo.
                Projeta-se, assim, uma relação entre a utilização das tecnologias da informação e a libertação do indivíduo de certas amarras do trabalho taylorista e fordista. Haveria ainda exploração do trabalho, mas essa exploração seria de um grupo e não da forma fragmentária que o trabalho no taylor-fordismo imprimia. Nestes novos termos, o trabalho seria mais qualificado, exigindo mais responsabilidade do trabalhador e, sobretudo, seria um trabalho mais intelectualizado se comparado ao da fábrica fordista. Expressões como “satisfação no trabalho” e “participação ativa do trabalhador” são consideradas como um índice que estabelece uma relação distinta do trabalhador com seu trabalho. Resumindo, o trabalhador teria se libertado de algumas limitações impostas pelas atividades tradicionalmente fabris.
                Apesar da criação de novas qualificações profissionais, inclusive alguns que retomam a capacidade intelectual do trabalhador, o que deve ser ressaltado é o grau em que esses trabalhos podem ou não fazer parte de escolhas e estruturas gerenciais alheias à intervenção do trabalhador. Nesse sentido, a pergunta central seria: a Revolução Informacional é de fato um processo de libertação do trabalhador em relação a atividades penosas e enfadonhas ou não passa de um processo de intensificação do trabalho, que agora também controla as formas de produção intelectual?
                Deve-se levar em conta que toda transformação tecnológica não tem fundamentação neutra, mas obedece aos interesses da sociedade. Nesse sentido, a produção informacional parece estar longe de libertar os trabalhadores dos atuais padrões de exploração e dominação social.
                Muitas atividades que utilizam a informação como ferramenta de trabalho são apresentadas à sociedade como diferentes daquelas da fábrica tradicional. Em geral, há mesmo diferenças entre essas atividades. Enquanto o trabalhador da indústria tem uma atividade preestabelecida pelo setor de engenharia de produção ou pela gerência, o trabalhador da área de informação se utiliza de dispositivos intelectuais para executar seu trabalho. No entanto, há limites para essas diferenciações.
Os projetistas de uma empresa de software planejam de acordo com um esquema determinado pela empresa, os jornalistas de um periódico escrevem dentro de uma linha editorial preestabelecida, os publicitários de uma empresa de marketing criam propagandas levando em conta os interesses do cliente. Pense nas suas atividades e nas de seus familiares e indique se do ponto de vista do controle do trabalhador existem marcantes diferenças entre as novas atividades ligadas à informática e as atividades tradicionais. Procure pensar também em que medida os trabalhadores das áreas rurais são afetados pelas tecnologias da informação.
Atividade
1º) Os projetistas de uma empresa de software planejam de acordo com um esquema determinado pela empresa, os jornalistas de um periódico escrevem dentro de uma linha editorial preestabelecida, os publicitários de marketing criam propagandas levando em conta os interesses do cliente. E o sistema educacional? É imparcial ou existem interesses a defender? Quais?

2º) Para alguns sociólogos, a transformação da sociedade se identifica com as forças produtivas enquanto a conservação social se identifica com as relações de produção. O que significa isso?

3º) Muitas foram as tentativas de minimizar os saberes dos trabalhadores e os transferirem, esses saberes, para uma gerência. Mas, por que essas tentativas não tiveram êxito com a Revolução informacional?
Sociologia hoje (186 - 187): volume único: ensino médio /Igor José de Renó Machado [et al.]. 1. ed. São Paulo: Ática, 2013

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