21 de abr. de 2024

O vendedor de loucuras

     Loucura em minha cultura é algo que pode ser comprado, mas jamais pode ser embalado. Ela é abstrata, no entanto, serve de alívio psicológico para a maioria à margem da racionalidade.

A carroça da loucura não tem objetos inúteis, mas sim utilizáveis pela massa populacional. Coisas como chapéus osmóticos para conhecimento, foguetes sem motor e enxugadores de nuvens são os mais vendidos ao coletivo da loucura, que forma o grupo anestesiado da população.

Os vendedores de loucuras, também conhecidos como lobistas das crenças, não perguntam o que as pessoas querem; eles simplesmente sabem que as pessoas não sabem o que querem e, assim, oferecem devaneios. Como vender passagens para o céu em foguetes sem motor, mapas para ir ao paraíso sem descrever o caminho, terrenos no mundo celestial sem registro em cartório e até a transferência de conhecimento por osmose. Eles estão a serviço da enganação.

Os portadores de comportamentos irracionais e ilusórios, que são adquiridos e perpetuados na sociedade, pode comprar e vender seu estilo de vida cultural nos templos da cidade, preocupa-se com os castigos advindos de suas próprias maldades e se interessa na felicidade embalada nos pacotes de cultura a venda nas bodegas celestiais. A loucura é suprema.

O homem triste, mas portador de uma loucura suprema, uma loucura cultuada em várias casas que ele mesmo chama de templo, com costumes e comportamentos considerados justos que, curiosamente, produzem uma sociedade injusta, abastece sua alma do nascimento até a morte, ainda faz dele um transmissor do mar de desvaneio.

    A loucura, comprada junto aos vendedores de ilusões, contribui muito para que se pense que o vinho não pode ser transformado em água na destilação. Também contribui para a consciência dominante de que é mais fácil um camelo passar no fundo de uma agulha do que todos serem bem alimentados neste país chamado Brasil.

    A loucura é tão aceita que não precisa ser imposta, mas agora é vendida como qualquer produto e em bodegas celestiais. Os escravizados da loucura compram as correntes e as amaras para serem aprisionados nas cavernas do atraso.

    É tão chique ser louco que a loucura agora é compartilhada. 

Chico de Oliveira 

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