O debate está aberto e mobiliza as melhores cabeças do mundo. Foi aberto por Michael Sandel, professor de filosofia política de Harvard, escritor consagrado e um dos mais influentes intelectuais da atualidade.
Não, ele não é um comunista ou incentivador dos Black Blocs. E valoriza a livre iniciativa e o empreendedorismo. No entanto, notou um descompasso nas relações humanas contemporâneas.
Para Sandel, a economia de mercado é uma ferramenta valiosa e eficaz para organizar a atividade produtiva. Em paralelo, a sociedade de mercado é um “lugar” onde quase tudo pode ser posto à venda.
Nesse segundo modelo, que segundo ele vem se fortalecendo nos últimos 30 anos, o sistema de compra e venda começa a dominar perigosamente outros aspectos da vida, como relações familiares, educação, saúde e política.
Para o intelectual, acende-se o sinal amarelo, ou vermelho, quando tudo passa a ter um preço e quando os preceitos éticos podem ser suprimidos por uma boa oferta.
Ele cita alguns exemplos da comercialização suspeita de alguns privilégios. É o caso de cadeias que, por dinheiro, se convertem em hotéis e oferecem boas acomodações a terríveis criminosos. É o caso de parques temáticos que vendem tickets para quem pretende furar a fila.
Até no Congresso norte-americano há empresas que vendem acesso privilegiado a audiências. Ganham os melhores lugares aqueles lobistas que pagarem mais pelo serviço.
Segundo Sandel, não há problema algum quando o dinheiro garante acesso a iates, férias extravagantes ou carros de luxo. O problema é quando determina o alcance de direitos básicos, como atendimento de saúde, educação de qualidade e voz política.
Ele condena outro uso do dinheiro, cada vez mais comum nos EUA. Trata-se do incentivo a crianças que tiram boas notas ou que se dedicam à leitura. Para o pensador, a busca do conhecimento deveria ser um prazer e não um negócio remunerado.
Na visão de Sandel, os mercados não afetam os bens tangíveis que comercializam, mas podem afetar decisivamente as práticas sociais e a vida cívica. Em algumas situações, o dinheiro desencoraja práticas fundadas em valores.
Para o professor, a mercantilização crescente da vida conduz a atitudes egoístas, gananciosas e a uma crescente separação entre as pessoas.
Segundo ele, a democracia não requer uma igualdade perfeita, mas requer compartilhamentos e atitudes baseadas em decisões morais. É o que tenho dito em minhas palestras e meus livros, como A Economia do Cedro.
Fica aqui a pergunta de Sandel, exposta em sua concorrida palestra no TED.