Assim, a modernidade pode ser entendida como expressão de uma época histórica marcada por um discurso que privilegia as formas de conhecimento científico universais e totalizantes, ou seja, produtoras de interpretações teóricas abrangentes e homogeneizantes que procuram dar conta da história da humanidade como um todo.
O pós-modernismo, por outro lado, privilegia a diferença, a diversidade, a fragmentação, a indeterminação, e nesse sentido se insurge contra os discursos universalizantes e totalizantes da modernidade. Procura reconhecer as diferentes subjetividades, dando maior visibilidade a questões como gênero, raça, etnia, ambiente, sexo, questões territoriais, entre outras. Veja as fotos a seguir.
Entre os autores interessados nesse tema, estão os britânicos Anthony Giddens (ver Perfil a seguir), sociólogo, e David Harvey (1935-), geógrafo. Para Giddens, vivemos em uma época em que as consequências da modernidade se radicalizaram e não numa época pós-moderna. Ele aponta para um mundo fora de controle: as pretensões iluministas de domínio da natureza e da sociedade pela via do conhecimento e do progresso científico não se concretizaram.
Segundo Giddens, a modernidade se funda em uma duplicidade sombria. Ao mesmo tempo em que cria uma estrutura de possibilidades e de oportunidades, fruto do desenvolvimento científico, promove também consequências degradantes como a exploração do trabalho, o autoritarismo na utilização do poder político e as guerras. Com relação à pós-modernidade, Giddens indica uma de suas características centrais: a ausência de certezas no processo de conhecimento.
Na perspectiva de David Harvey, o pós-moderno aparece como um reflexo das formas de produção e acumulação flexível típicas da era toyotista e de uma nova compreensão da relação espaço-tempo no capitalismo. No entanto, ao observar mais de perto as transformações sociais, Harvey nota uma reprodução das relações sociais fundadoras do capitalismo, isto é, não observa uma mudança estrutural que projetaria uma nova sociedade, seja ela pós-capitalista, seja pós-industrial.
Segundo Harvey, as teses que defendem que vivemos numa época pós-moderna incorrem em alguns equívocos. O primeiro deles é a crítica a toda e qualquer argumentação universal e totalizante (noções que vimos no capítulo 2, na crítica dos pós-modernos ao conceito de cultura), que levam à impossibilidade de legitimar e validar cientificamente seu próprio discurso. Nesse sentido, as teorias pós-modernas que reivindicam a celebração da fragmentação, do efêmero, da simulação, aceitando as identidades dos grupos locais, acabam por não construir uma análise ampla das sociedades em que esses grupos estão presentes.
VOCÊ JÁ PENSOU NISTO?
Uma das diferenças centrais entre o discurso moderno e o pós-moderno se refere à contraposição entre o universal e o particular ou específico. Enquanto o discurso moderno se fundamenta em uma visão totalizante e universal, o pós-moderno se limita a entender a autenticidade e a alteridade de grupos locais que deveriam ser analisados por sua lógica interna e não com base em leituras generalizantes. Nas últimas décadas, surgiram vários grupos sociais com reivindicações políticas, ideológicas e materiais específicas. Os movimentos negro, feminista, homossexual, étnico, por exemplo, se caracterizaram por iniciativas políticas que, de forma geral, não podem ser integradas em um discurso político amplo. Compare alguns desses movimentos, buscando encontrar os pontos de distanciamento e de aproximação entre eles.
Um segundo ponto levantado por Harvey se refere à questão do reconhecimento da alteridade e da autenticidade de grupos locais como expressões do pós-moderno. Ao mesmo tempo em que se reconhece a identidade de um grupo local, a alteridade e autenticidade desse grupo permanecem circunscritas apenas a seu espaço social, negando, com isso, a influência desses grupos em realidades mais amplas.
Assim, Harvey entende que o resultado do discurso pós-moderno se caracteriza por um silêncio diante de questões relativas à economia política e às estruturas de poder global. Ele entende que há, na prática, uma radicalização da modernidade e não uma época pós-moderna propriamente dita. Essa radicalização pode ser observada na aceleração dos processos de produção e reprodução sociais nas sociedades capitalistas, sobretudo se analisamos a intensificação do trabalho para a geração de lucros. Harvey argumenta que o lado fragmentário, efêmero e caótico de nossas sociedades estruturou-se ao lado do progresso técnico e científico, o que caracterizaria muito mais uma crise da modernidade que a constituição de sociedades pós-modernas.
ATIVIDADE
7º) No início do século XVIII, o iluminismo dá base a um projeto de desenvolvimento científico objetivo e autônomo que busca a emancipação da humanidade. O que esse projeto buscava naquela época?
8º) A vida em sociedade está permeada pelos princípios da modernidade. Podemos observá-los na economia, no direito, nas formas de organização burocrática e nas atividades profissionais. Como a modernidade pode ser entendida?
9º) As pretensões iluministas de domínio da natureza e da sociedade (sociedade organizada) pela via do conhecimento e do progresso científico não se concretizaram e essa se funda em uma duplicidade sombria. Qual é essa duplicidade sombria?
Sociologia hoje (189 - 192): volume único: ensino médio /Igor José de Renó Machado… [et al.]. – 1. ed. –São Paulo: Ática, 2013