Quando o velho comunista morreu e chegou ao inferno, não perdeu tempo: foi logo argumentando que "todos são criaturas de Deus" (Atos 17:28), "vestidos de justiça" (Apocalipse 19:8), e que "vivem em plena comunhão" (Apocalipse 21:3-4). "Não há sofrimento, fome ou injustiça no Céu" (Apocalipse 7:16-17), declarou. "Isso aqui está mal organizado! O Paraíso é que parece meu programa de governo!"
Foi preciso instalar
um Comitê Central para planificar a solução das contradições e
debater os monopólios privados do inferno — afinal, por que só
Lúcifer controlava os garfos e as labaredas?
Os liberais
infernais, munidos de "direitos achados" na Constituição
do Inferno, invocaram cláusulas pétreas e protestaram:
— "Aqui não
é lugar de igualitarismo! Vá para o Céu se quer distribuir virtudes!"
— "Deus deve
ter se equivocado ao mandar você pra cá!"
O velho comunista, firme
em suas convicções, sustentou que suas ideias priorizavam trabalhadores
organizados e, imediatamente, fundou sindicatos das almas
penadas. Decretou a coletivização do sofrimento — todo
mundo apanhava igualitariamente, sem privilégios ou atenuações para ricos ou
pobres. A medida foi tão revolucionária que até os demônios entraram em
greve, exigindo melhores condições de trabalho, como: escala 4 x 3 e Jornada
diária limitada de tortura de 6 horas. Além disso, o direito a
assembleias infernais para discutir a exploração demoníaca.
Satanás, já desesperado,
ligou pra Deus:
— Vem buscar esse
camarada! Ele tá pior que reforma agrária no meu reino!
Deus, curioso, levou o comunista pro Céu "por
uma semana" pra dar uma olhada. Só que, passado o prazo, o Diabo
ligou de novo:
— "Cadê ele? O que ele mudou por aí!"
Deus respondeu: