Nas últimas décadas, as sociedades capitalistas se estruturaram com base em um processo de financeirização do capital. A valorização do capital baseada na extração de mais-valia e na exploração da força de trabalho (assim pensa a esquerda) foi avolumada por um processo que já se observava desde o final do século XIX e que nas últimas décadas tornou-se economicamente hegemônico: o acúmulo de riquezas desenvolvido por mecanismos e canais financeiros e não apenas por meio das atividades produtivas (na indústria, no comércio e na agricultura).
Formaram-se no século XIX os bancos e a figura do capitalista que comercializa dinheiro, isto é, o capitalista financeiro. Tomar dinheiro emprestado de um banco é uma forma estrutural de valorizar o capital. O capitalista industrial faz isso a fim de investir na produção com o objetivo de lucrar por meio da exploração do trabalho. Com esse lucro, o capitalista industrial paga os juros para o capitalista financeiro. Mas tanto o lucro quanto o juro são frutos da mais-valia produzida.
Na prática, o capitalista financeiro potencializa o lucro do capitalista industrial quando dá a ele um crédito. O problema é que além de potencializar a acumulação capitalista, esse crédito que o banco concede dá origem ao capital fictício. Como Marx define o capital fictício? De um lado, o empréstimo é aplicado no processo de produção para gerar mais-valia, isto é, o dinheiro emprestado é considerado produtor de juros. No entanto, nem todo empréstimo é aplicado à produção. Essa forma de dinheiro emprestado que não entra no processo de geração de mais-valia é considerada por Marx como uma forma fictícia de capital.
O desenvolvimento da financeirização nas últimas décadas faz com que a finança prevaleça em relação à produção de mercadorias. Isto é, os valores negociados no mercado de ações são superiores àqueles gerados pelas atividades produtivas. Para observar esse fenômeno, basta considerar o produto interno bruto (PIB) de determinados países e compará-los aos valores negociados em suas bolsas de valores. Do final da década de 1970 até meados da primeira década do século XXI, os valores negociados nas bolsas foram muito superiores ao valor dos PIBs de todos os países de economia capitalista desenvolvida. Há, portanto, uma diferença entre a produção real e o que se negocia na forma de títulos e ações; isto é, entre a valorização real e o capital fictício.
Assim, a valorização das ações de uma empresa não está relacionada diretamente a seu lucro ou perda em um período específico, mas sim à avaliação na Bolsa de Valores. O que importa é a avaliação da bolsa sobre o lucro ou perda e não o aumento ou redução da lucratividade da empresa.
Determinadas ações aumentam de valor sem que haja um aumento proporcional da produção real. O economista francês François Chesnais (1934-) convencionou chamar o período de avanço da finança de mundialização do capital. Um processo que se define pela liberalização de capitais pelo mundo, ou seja, pela possibilidade de captação de recursos financeiros em diferentes mercados. Em seu livro A mundialização do capital (São Paulo: Xamã Editora, 1996), Chesnais analisa o capitalismo de hoje para demonstrar o caráter destrutivo das forças econômicas atuantes a partir da década de 1980.
Essa liberdade de investimento capitalista permitiu uma movimentação de capitais pelo mundo, o que fez desenvolver amplamente a valorização do capital fictício, sobretudo nos países mais ricos. Entretanto, essa valorização é interrompida quando ocorre queda de salários e de investimentos, e nos anos 1990 e na primeira década do século XXI as crises se multiplicaram.
Para a economista brasileira Maria de Lourdes Mollo (1951-), estamos vivendo um período em que o processo de financeirização das economias parece ter chegado ao seu limite. De qualquer forma, é importante considerar a intrínseca relação entre capital industrial e capital financeiro. Desde sua origem, o desenvolvimento capitalista teve sua base estruturada nessa relação, que se aprofundou com a liberalização dos fluxos de capital nas últimas décadas.
A contenção ou o desenvolvimento de um desses polos (capital industrial e capital financeiro), intrinsecamente complementares da economia capitalista, depende da participação decisiva do Estado. Exemplos disso são os empréstimos públicos dos Estados Unidos para salvar determinados bancos da falência.
Atividade
4º) Nas últimas décadas, as sociedades capitalistas se estruturaram com base em um processo de financeirização do capital, ou seja, o capital acumulado passa a render lucros. Como são conseguidos tais lucros pelo capital hoje?
a) Apenas através do sistema produtivo.
b) Apenas através dos produtores rurais.
c) Através canais financeiros e das atividades produtivas.
d) Através do Estado e das prefeituras.
5º) Qual é o problema que o capital financeiro potencializa quando empesta dinheiro ao capitalista industrial e ao Estado no Brasil?
a) Aumenta a acumulação de recursos na mão de poucos devido as taxas altas de juros.
b) Aumenta o poder do Estado brasileiro.
c) É péssimo para a concorrência internacional, porque as taxas de juros são baixas.
d) Aumenta produção industrial a longo prazo.
6º) A forma de dinheiro emprestado que não entra no processo de geração de mais-valia foi considerada por Marx como uma forma fictícia de capital. O que fez desenvolver amplamente a valorização desse tipo de capital fictício o mundo?
a) A falta de permissão imposta pelos governos no mundo.
b) A liberdade (liberalismo) de investimento capitalista que permitiu uma movimentação de capitais pelo mundo,
c) A política de juros dos países ricos que favorece os países pobres.
d) O autoritarismo da Constituição americana.
Sociologia hoje (188 - 189): volume único: ensino médio /Igor José de Renó Machado… [et al.]. – 1. ed. –São Paulo: Ática, 2013